Pantera Negra não é revolucionário
Por conta da triste e prematura morte do ator Chadwick Boseman, que interpretou o Rei T’Challa, mais conhecido como Pantera Negra, achei por bem recuperar esta postagem de março/2018, que fiz no Facebook. A maioria das pessoas encara/encarou o filme como um grito de liberdade e afirmação dos negros e é preciso que se faça um raciocínio que ultrapasse o deslumbramento que a produção traz. Eu, pesquisador dos bailes black do Rio de Janeiro, peço licença para expressar minha opinião sobre a produção.
Bem, finalmente vi Pantera Negra. Demorei mas vi.
Como entretenimento é nota 10. Efeitos, atuações, história, roteiro, tudo legal e bem apropriado a um filme de herói.
Como filme empoderador de negros……….meu Deus, é um HORROR.
Acredito que seja legal ver um elenco 99% negro atuando bem numa trama bacana, com ancestralidade, africanidade e, além disso, ver negros em posição de protagonismo na telona.
Devo lembrá-los que isso não é novo, os filmes de blaxploitation dos anos 70 faziam isso com mais propriedade e conexão com a realidade dos negros no mundo.
E aí está o problema imenso de Pantera.
O filme joga no lixo tudo o que se pensou e escreveu sobre diáspora africana e suas consequências/causas no âmbito cultural pra privilegiar uma monarquia fantasiosa, que governa uma nação africana com igualdade e, pior, no total isolacionismo em relação ao mundo e ao continente. Sim, há motivos pra isso, mas eles não arranham o dedão do pé da realidade.
A diáspora é uma situação histórica que remonta à saída dos negros do continente africano em direção às Américas e outras partes do mundo, num processo lento e demorado, que causaria, grosso modo, uma forma comum de pensamento, tradição, cultura e comunicação, que afeta tanto a África quanto os destinos. Sendo assim, haveria muito em comum entre um negro de Londres, outro de Nova York, um terceiro de Kingston e um último de Lagos, mas, segundo o filme, não com um de Wakanda. Isso não dá pra engolir.
O tiro de misericórdia que o nocivo roteiro do filme dá na realidade é o total desmerecimento do lado de pensar da diáspora, colocando como vilão um autêntico representante dessa realidade, para privilegiar uma corte wakandiana embotada, engessada em tradições monárquicas e com comportamento egoísta e alienado.
Sinceramente, poucas vezes vi uma oportunidade tão desperdiçada.
Repito: é legal como entretenimento. Presta desserviço como ideário.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
É um marco, sem dúvida, mas nada além disso. Tbm sai do cinema encabulado, pensando de como uma história fantasiosa, pudesse ser revolucionária, porque pode sim, mas não essa! Acho o filme até chato, com suas brigas e explosões holiwoodianas. Válido apenas pelas atuações de atores, como vc disse, 99% negros, por um herói negro, já estava mais do que na hora! Mas como filme, para mim deixou muito a desejar!
Acho que o filme não é revolucionário. E quem pensou isto, o fez, porque diante de muitos filmes de heróis brancos, lançaram um com a pretada protagonizando. Não por causa do roteiro.
Quando eu menciono o roteiro, menciono a história e as características que ela toma.
Você foi perfeito na análise. Confesso que quando assisti eram tantas explosões que não entendi bulufas daquela monarquia lá …
Convenhamos, revolucionário, representativo, didático é Spike Lee mesmo , ainda hoje.