Olivia Jean – Night Owl

 

Gênero: Rock alternativo
Faixas: 14
Duração: 38 min
Produção: Olivia Jean
Gravadora: Third Man Records

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

A ideia é boa: uma garota que toque vários instrumentos, tenha percepção e gosto exóticos o bastante para criar um universo musical só dela. E que isso tenha como base o mais cru e garageiro dos rocks. Sim, essa é a proposta de Olivia Jean, que chega ao segundo disco, este ótimo “Night Owl”. É uma pequena parada – dessas de feriados americanos – com um monte de estilos adjacentes ao rock primordial – rockbilly, garage, rock’n’soul – e variantes, unidos sob uma visão que tem muito em comum com a de um Jack White da vida. Aliás, não por coincidência, Olivia grava pela Third Man Records, da qual White é dono e já o teve na produção do primeiro disco, “Bathtub Love Killings”. Agora ela assumiu a pilotagem integral do álbum, tocando tudo e produzindo.

 

O resultado, ainda que bem legal, não tem a mesma força da estreia, mas tem um mérito considerável, o de procurar expandir este approch whiteano/excêntrico, decalcado da visão do próprio Jack sobre a música rock’n’blues americana, seus mistérios, origens e ideário. Olivia faz covers, busca novas influências e usa de todo o arsenal feminino possível, adentrando áreas em que Jack jamais poderia ir, como o imaginário pin up e outras referências, fazendo deste “Night Owl” um mergulho inesperado a partir de revisitas de vários signos sonoros e visuais alternativos destes anos 50/60 que não tinham, necessariamente, a cara dos Beatles como imagem mais forte, pelo contrário.

 

Uma ouvida inicial vai mostrar que Olivia tem grande influência de Jack e isso não está errado. São riffs crus, bateria simples e reta, detalhes de teclas e percussões aqui e ali, mas será possível notar que há muito mais no pacote. Por exemplo, a referência dos girl groups dourados em faixas como “The Hunt”, conferindo graça e certa fragilidade ao pacote, brincando com as referências do público. A faixa-título, por sua vez, já tem um andamento mais próximo do pop, mas também brinca com o rock feminino surgido logo no início dos anos 1960, mostrando que Olivia Jean tem ouvidos e olhos atentos. “Jaan Pehechaan Ho” já enfileita fraseados guitarrísticos derivados da surf music mais tradicional, enfiando algumas referências orientais/indianas, que fazem muito bem ao resultado final.

 

“Can You Help Me” também tem algo de oriental mas envereda pelo terreno da psicodelia mais primitiva, fornecendo uma ótima levada de baixo, bateria e guitarra, devidamente turbinada pelos vocais dobrados. “Brushfire” é uma cover dos Flamin’ Groovies, na qual se preservou muito do andamento original, conferindo graça e verniz ao álbum. “Siren Call” é o outra faixa muito influenciada pela surf music, cheia de belas guitarras se contrapondo aos vocais, deixando a trinca final em ponto de bala. “I Used To Be Lonely” é outra rendição adorável ao pop mais tradicional dos anos 1960, enquanto “Perfume” tem força e vigor encapsulados em belos vocais de apoio que se entremeiam ao principal, com belo efeito. Por fim, “Tsunami Sue”, com pouco mais de dois minutos de duração, é farra guitarreira como se estivéssemos a caminho de algum bar de beira de estrada.

 

“Night Owl” é um pequeno passeio pela América musical, essa entidade tão querida e multifacetada. Olivia Jean se assume como uma guia com conhecimento suficiente para nunca deixar a viagem se tornar monótona. Venha.

 

Ouça primeiro: “Jaan Pehechaan Ho”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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