O grande prêmio do Teenage Fanclub

 

 

 

Gente, “Grand Prix”, o quarto disco do grupo escocês mais querido de todos nós, está fazendo vinte e cinco anos. Sim, o tempo passa, a gente fica aqui – ou ficou lá em 1995 – e as canções de “Grand Prix” seguem como amigos de faculdade/colégio que a gente não vê mais, porém, quando reencontra, a impressão é de que ontem mesmo todo mundo estava junto e misturado. E nesses tempos de quarentena e fascismo, os docinhos em forma de coração que compõem o disco são como presentes que recebemos sem esperar, especialmente para adoçar o travo amargo do cotidiano, modelo 2020. Sim, como vocês podem observar, este texto é apaixonado e longe da isenção jornalística, portanto, se você é fã, seja bem-vindo/a. Se não é e espera análises críticas e tal, passe longe, aqui é Teenage Fanclub.

 

Pensar em “Grand Prix” é pensar em mim mesmo, há 25 anos, descobrindo conexões da música. É me ver ouvindo o disco lá na Barata Ribeiro, 726, no meu antigo quarto, procurando entender como as canções podiam parecer Beatles, Byrds e Big Star – o real BBB da vida – e conectá-las. Era, acima de tudo, perceber como as influências percebidas em artistas queridos podiam significar novos artistas para ouvirmos. A partir do Teenage Fanclub eu conheci o Big Star e me inteirei mais de Byrds. Era um tempo de descoberta, quero frisar. E o tom dos escoceses, sempre falando de amor, casos do cotidiano, sentimentos e honestidade para com eles, era adequado para mim e meus amigos da Uerj. A gente ouvia junto, se reunia fora de sala para falar de música, se tornava irmão a cada dia um pouco mais e, lhes garanto, “Grand Prix” tem a ver com isso.

 

Eu já vira resenha na Bizz sobre o segundo disco do TFC, “Bandwagonesque”, que saíra em 1991. Quando comecei a alugar CDs – sim, fazíamos isso – dei de cara com o sucessor dele, “Thirteen”, que tinha uma bola de vôlei na capa, e uma faixa beatlemaníaca/grunge, chamada “Hang On”, logo abrindo o álbum. E tinha “Gene Clark”, uma épica homenagem ao ex-Byrds, com melodia sacrossanta que lembrava Neil Young, outra influência do TFC da qual eu passei a saber mais. Sendo assim, quando “Grand Prix” chegou, dois anos depois de “Thirteen”, eu já ansiava pela nova entrega da banda para seus fãs. Dei de cara com ele na mítica Spider, lojinha que existia numa galeria em Ipanema e, apesar do preço amargo de álbum vindo da Inglaterra, não hesitei em comprá-lo no escuro. O que saiu das caixas de som do meu velho carrossel Sony foi … divino.

 

Divino porque eu ainda ouvia música apenas com o coração. O ofício de escrever sobre ela faz com que a gente acabe treinando o ouvido para detectar nuances e detalhes, coisa que contamina a apreciação pura, simples e autêntica. Em 1995, isso não existia em mim. Então meu peito estava aberto para ser contaminado por aquelas canções de amor, que não eram, necessariamente de amor sexual/hétero. Elas eram atos de amor, falas de amor, relatos de um cotidiano de gente que leva o sentimento a sério quando lida com o próximo e, sim, com a namorada, a esposa, o marido, o namorado, o irmão, os pais, a irmã, os amigos…A impressão que a música do Teenage Fanclub passava para mim era essa, e, com o passar do tempo, vi que outros amigos e jornalistas compartilhavam dessa visão.

 

Pode ser exagero, vá lá. Estou tentando escrever o texto livre de amarras e outras visões. A sucessão de maravilhas melódicas é difícil de igualar, até para bandas douradas dos anos 1960. A minha preferida do disco tem quase status de Miss, uma vez que este posto muda de acordo com o passar do tempo. Já foi “Sparky’s Dream”. Depois foi “Don’t Look Back”. Mais tarde, “Neil Jung” era a tal. “Verisimilitude” também já esteve nas alturas, sendo substituída por “Discolite”, que é a atual ocupante do trono. Mas isso pode – e deve – mudar.

 

“Grand Prix” é um disco para ouvir sorrindo. É daqueles álbuns que a gente diz que servem para sonorizar um passeio no parque, que anunciam a chegada do verão, que pode ser trilha sonora de primeiro beijo, primeira transa, primeiro filho/a. Ele vai te fazer companhia e vai te amar sem pedir nada em troca. Seja mais feliz e o leve consigo nesta vida tão cruel.

 

PS: eu falei que era fã do disco, né?

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “O grande prêmio do Teenage Fanclub

  • 29 de maio de 2020 em 16:57
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    Super me identifico com seu texto pleno de afetos. Até hoje a banda segue como trilha sonora de minha vida.

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