Mahmundi – Mundo Novo

 

 

Gênero: Pop alternativo

Duração: 21 min.
Faixas: 7
Produção: Mahmundi e Frederico Heliodoro
Gravadora: Universal

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Marcela Vale, a Mahmundi, mudou seu som. A prova está nas sete canções do seu mais recente álbum, “Mundo Novo”, cujo título sintomático se torna plenamente explicado a partir do resultado que o disco traz. Se antes a cantora, produtora e instrumentista carioca pautava suas canções em arranjos com teclados e sintetizadores, dando distinção a elas e obtendo sucesso em dois EP`s e dois CD’s, sendo que o último – “Para Dias Ruins” – até lhe valeu uma indicação ao Grammy Latino. Agora, neste novo trabalho, Mahmundi recebe colaboradores e se entrega a novas sonoridades. E isso é bom e não tão bom.

 

Evito a palavra “ruim” porque a moça é muito talentosa e tem senso melódico apuradíssimo. Seu canto é belo, sua produção é no ponto e não há uma única faixa que possa ser chamada de “fraca” neste novo disco. Aliás, o tamanho do álbum – sete canções em 21 minutos – está no limite entre o formato EP e o chamado disco “full”. Isso importa pouco, mas, ao fim das canções, sentimos a falta de mais duas ou três faixas para, pelo menos, chegar aos 30 minutos. Mas tudo bem, é um pecadilho. Ainda que os arranjos não sejam mais envoltos nas paisagens geladas/quentes que os teclados proporcionavam, há momentos de beleza por aqui.

 

“Nova TV”, por exemplo, é uma lindeza. O disco todo tem um conceito sutil sobre o binômio solidão/multidão, que serve para definir a obra da própria cantora neste momento. Há guitarras, baixo, bateria e uma sensação de refinamento estético. Mahmundi ainda segue parecida com Marina Lima e esta faixa evidencia o fato. “Convívio” é outra lindeza, mostrando o quanto Mahmundi – e o coprodutor, Frederico Heliodoro – tiveram em mente os arranjos, todos equilibrados entre um pop-rock noventista refinado e uma modernidade paradoxal/atemporal. Funciona bem, seja na concepção da sonoridade “de banda” para preencher os espaços, como em detalhes – especialmente os backing vocals, onipresentes.

 

Mahmundi está, como se diz na gíria, soltinha. Em “No Coração da Escuridão” ela se adapta a um arranjo meio neo-axé, meio caetanovelosófico noventista, com bom resultado. “Nós de Fronte” é um samba cadenciado e solitário, sob a luz da lua e versos como “Nós de fronte, nada mais se esconde, antes eu tinha medo, agora eu sinto fome, deste amor”, numa prova de que ela tem recursos de sobra para manter-se no ar nestes vôos estéticos mais altos. “Sem Medo” é a faixa mais próxima do que está na carreira pregressa da moça, ainda que haja uma sombra reggae mais evidenciada, enquanto “Vai”, a canção que encerra o álbum, é uma bela meditação com violões e climas suaves.

 

Mahmundi gravou um disco afetuoso, curto e singelo, mas que oculta sua ambição como artista. Ela se coloca como uma realidade da nova música nacional, deixando para trás algum hype que possa ter existido e aposta na constância, que se inicia aqui. Uma beleza.

 

Ouça primeiro: “Nova TV”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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