Lady Gaga – Chromatica

 

 

Gênero: Pop

Duração: 43 min.
Faixas: 16
Produção: BloodPop, Skrillex, Axwell e Tchami
Gravadora: Interscope

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Cá estamos nós no sexto álbum de Lady Gaga. “Chromatica” é disco feito para o consumo em larga escala, produto de uma engrenagem muito bem azeitada e turbinada, que oferece esse Big Mac musical substancioso, fresco, crocante e com cebolas crispies dançantes. Aliás, este é um trabalho que é marcado pelo aceno de Gaga às pistas de dança de uma forma que só tem paralelo em sua estreia, “The Fame”. A ideia é promover uma lavagem de alma através de uma corrente-pra-frente mundial, cheia de gente inundada pelo bem querer que brotou nos corações em meio à Covid-19. O lançamento de “Chromatica” deve ser em 10 de abril, mas a pandemia atrasou os planos e o disco chega como um triunfo sobre os tempos lúgubres que vivemos.

 

 

Gaga é uma superestrela mundial. Ela tem um status inexpugnável e pode fazer o que quiser e é ótimo quando ela faz bem feito. As canções e a produção de “Chromatica” são engenhosas e chegam revestidas do que há de mais moderno em termos de pop planetário. Tem acenos ao synthpop, ao electro, ao moderno europop e até ao k-pop (o grupo BLACKPINK participa do álbum em “Sour Candy”) e oferece momentos de real cura pela dança/animação. Tudo aqui pede variados remixes e versões, com desdobramentos possíveis e prováveis em pouco tempo. Só que “Chromatica” oferece, além do bailão pós-moderno, uma simpática proporção de pequenos detalhes escondidos sob o manto “dançante”. Vejamos.

 

“911”, por exemplo, é uma canção que tem algo de anos 1990 em sua dinâmica dançante, um pouco menos acelerada e cheia de efeitos vocais/batidinhas simpáticas. Tem letra quase rapeada e boa transição para as partes mais melódicas, tudo no lugar. “Plastic Doll”, logo em seguida, tem uma levada mais tecnopop oitentista, com uma programação de bateria que é deliciosamente datada. “Rain On Me”, a faixa que Gaga divide com Ariana Grande é bem legal, começa com climas e vocais etéreos e logo deságua num baticumcum aeróbico para gente com bom preparo físico e disposição para exorcismos sob o globo prateado da pista. É pop e exibe atrativos eletrônicos de boa cepa, interessando a todos.

 

A tal colaboração k-poo com o quarteto BLACKPINK, quarteto especializado no assunto, é legal, mas parece travar as rodas um pouco, justo quando há a contraposição da parte mais lenta com a melodia mais acelerada, mas não é nada que chegue a incomodar. “Enigma” ameaça chegar mais épica e contemplativa, mas traz batidas e andamentos interessantes ao longo de sua duração, também se inserindo no balanço geral de faixas dançantes, pero no mucho. “Replay” é um pequeno tutorial de como fazer algo dentro do nicho do moderno europop, enquanto “Sine From Above”, que traz ninguém menos que Elton John como convidado, surge como uma ótima surpresa sacolejante, levando o velho Reginald Dwight para a pista como ele não fazia desde “Don’t Go Braking My Heart”, de 1976. No fecho do álbum, duas outras belas canções, “1000 Doves” e a ótima “Babylon”, com timbres interessantes e dinâmica esquisita.

 

Lady Gaga lançou um disco que este nosso período pedia. Divertido, interessante, cheio de detalhes. Não é só um álbum dançante, e sim um trabalho com várias dinâmicas felizes. Os fãs vão adorar.

 

Ouça primeiro: “911”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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