O adorável e desajeitado Dinosaur Jr

 

 

Dinosaur Jr – Sweep It Into Space

Gênero: Rock alternativo

Duração: 44:57
Faixas: 12
Produção: Kurt Vile
Gravadora: Jagjagwar

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

Dinosaur Jr é daquelas banda que podemos usar como teste de caráter. Se a pessoa não gosta, deve esconder algo terrível em sua psiquê e, a partir dessa revelação, deve ser colocada em estágio probatório ou outro mecanismo de prevenção e avaliação. Brincadeiras à parte, o fato é que J Mascis (guitarra e voz), Lou Barlow (baixo e voz) e Murph (bateria) são sobreviventes legítimos do rock alternativo americano pré-grunge. Eles alimentaram, junto com o Sonic Youth e os Pixies, toda a fornada de bandas que surgiram nos anos 1990 e fizeram a delícia da galera. O mix de guitarras distorcidas e soterradas em microfonia, com o fiapo de voz e o ataque sonoro do trio, levou o Dino Jr a uma posição de protagonismo mas logo a banda enfrentou problemas com a saída de Barlow – que formou o Sebadoh e outros projetos. Mascis seguiu em frente, mas encerrou atividades em 1997. Surpreendente mesmo foi o retorno do trio clássico em 2005 e, desde então, cinco discos depois, seguem firmes e fortes, sendo este ótimo “Sweep It Into Space” o mais novo integrante de sua trajetória.

Se você quer algo de novo no front do Dino Jr, pode ir perdendo as esperanças. Uma das grandes características da banda é não mudar, ou melhor, aprimorar a sua fusão de barulho e melodia, ao longo do tempo. E isso vem sendo feito, com uma tendência de amor maior pelos tons mais harmônicos e doces da composição. Mas não se engane: seja pela voz de J ou por suas guitarras, o peso e o poder abrasivo da marca sonora do trio permanece presente. O legal é justamente ver quem – melodia ou peso – vai ganhar a queda de braço na próxima faixa. De quebra ainda temos as participações de Barlow nos vocais, com um timbre muito parecido com o de Mascis, mas cheio de particularidades e capaz de carregar doses interessantes de melancolia. Aliás, o álbum é melancólico, ainda que não pareça, visto que todas as faixas presentes têm ótimos riffs e refrãos generosos, mas há uma aura de saudade, de inadequação e estranhamento diante dos tempos de hoje.

 

A canção mais emblemática deste traço é “Garden”, justo uma das que têm o vocal de Barlow. Seu tom é daquela pessoa que tenta disfarçar a tristeza interior e dominante com um sorriso amarelo ou algo assim. O resultado é belo e discreto, mas o disco vai bem além. Temos a produção de um adepto do grupo, Kurt Vile, trovador folk do tempo presente, que mexe discretamente no painel do grupo, adicionando um vocal de apoio aqui, uma guitarra dedilhada ali (o single “I Ran Away” é um ótimo exemplo desta participação) e ajuda a dar um rosto específico para o feixe de canções que permeiam o álbum.

 

Há também a maravilhosa rendição ao romantismo mais adolescente em “Take It Back”, que chega a parecer uma canção de grupo pop do início dos anos 1960, com uma batida doce e pianinhos discretos. É quando o Dinosaur Jr se transforma em Barney. O resto é aquele adorável cabo de guerra entre microfonia e doçura, com ótimos momentos, caso de “I Ain’t”, “To Be Waiting”, And Me” e um monte de outras faixas com cara de 1992 e participação na trilha sonora de “O Balconista” ou qualquer outro artefato tipicamente daquele tempo. E isso é precioso.

 

“Sweep It Into Space” é desajeitadamente reflexivo, romântico e verdadeiro. É um disco típico de Mascis, Barlow e Murph, o que, convenhamos, é muito.

 

Ouça primeiro: “Garden”, “Take It Back”, “I Ain’t”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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