Novos e velhos baianos com Paulinho Boca de Cantor

 

 

Paulinho Boca de Cantor – Além da Boca

Gênero: MPB

Duração: 46:38 min.
Faixas: 11
Produção: Betão Aguiar
Gravadora: Deck

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Novos Baianos é uma das bandas mais interessantes da música brasileira mas acho que há uma injustiça quando se fala nela. Paulinho Boca de Cantor, um dos integrantes originais do grupo, responsável – como o nome já diz – pelos vocais de vários clássicos, é bem menos lembrado que Pepeu Gomes, Baby Consuelo e o saudoso Moraes Moreira. Talvez porque ele tenha sido o mais discreto ex-integrante da trupe, com uma carreira solo com pouquíssimos lançamentos e quase nenhum sucesso. Por essas e outras, a chegada deste trabalho é tão legal e importante. “Além da Boca” é uma festança de música brasileira, de música nordestina, cheio de nuances, de cores, participações e com o mesmo jeitão que a gente identifica em alguns discos dos Novos Baianos. Tem rock, tem samba, tem saudade, tem, acima de tudo, ótimas performances vocais de Paulinho.

 

É um álbum que tem muitos parceiros, participações especiais, músicos de várias gerações, diversidade de ritmos, alegria e a vontade nítidas de gravar um disco grandioso. Paulinho é conhecido pelas interpretações de clássicos como “Mistério do Planeta”, “Dê um Rolê” e “Swing do Campo Grande”, entre outros. Em “Além da Boca” ele inova mostrando também seu lado compositor. Desde 2010 ele começou a interagir as novas gerações de músicos, que também eram fãs. Participou de projetos com Curumin e Anelis Assumpção, levou vários artistas para seu trio elétrico em Salvador e foi trabalhando com outras pessoas. “Quando retomei os shows com os Novos Baianos vi a juventude chegar lotando as apresentações. Eu sempre gostei de andar com jovens” – conta ele. Nessa época começou a compor e, depois do Carnaval de 2019, já tinha mais de 30 canções. “Aí chamei meu filho, o músico Betão Aguiar, para produzir e convidei diversos artistas para participar comigo desse projeto” – completa.

 

A presença dos convidados, de fato, colore o disco de um jeito muito próprio e consegue resultados ótimos. Anelis Assumpção, por exemplo, já surge na faixa de abertura, “Eu Vou Deixar Essa Canção no Ar”, com um belo trecho recitado em meio à melodia dolente e ao arranjo que se equilibra entre ritmos nordestinos e o reggae, contando ainda com a presença de Marcelo Jeneci no acordeon. A canção é de autoria de Paulinho com o filho Betão Aguiar. Zeca Baleiro e Zélia Duncan, são co-autores de “Ah, Eugênio”, um daqueles híbridos de samba, rock e brasilidade que tanto marcaram a carreira dos Novos Baianos. E, falando na banda, Luiz Galvão, seu companheiro de Novos Baianos, também está em duas parcerias, a latina “Essa Patrícia” e “O Jogo é 90 Minutos”. Sobre esta faixa, Betão diz: “Juntei Jorginho e Didi com Pedro Baby, Davi Moraes e meu irmão Gil para gravá-la, que é uma inédita do meu pai com Galvão.

 

Em algumas canções a inovação marca as ações, como por exemplo juntar Curumin, Edgar Scandurra e André Lima para tocarem o ótimo afoxé “O Céu da Bahia na Boca do Cantor”. Tim Bernardes e Biel Basile, d’O Terno, estão na bela “Ligeiro Demais”, assim como Gustavo Ruiz. Mas há a tradição radiofônica, que também marca os outros ex-integrantes da banda, presente, por exemplo, em “Além do Ceu, das Estrelas”, que é uma lindeza com boas guitarras e arranjo de cordas. “Que Nada” é típica canção do fim dos anos 1970 atualizada, com arranjo ótimo que ressalta guitarras e bateria, com sotaque latino e baiano ao mesmo tempo. Aliás, se há algo novidadeiro e muito bem-vindo ao longo de “Além da Boca” é esse flerte constante com tonalidades latinas.

 

Este é um disco generoso, grandioso e que abraça o ouvinte. Seu ambiente natural é o sol, o verão, a celebração de uma sonoridade brasileira que está dentro de nós e que significa muita coisa boa. Ouça e se apaixone.

 

Ouça primeiro: “Além do Céu, das Estrelas”, “Ah! Eugênio”, “Essa Patrícia”, “O Céu da Bahia na Boca do Cantor”, “Eu Vou Deixar Essa Canção no Ar”.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Novos e velhos baianos com Paulinho Boca de Cantor

  • 8 de setembro de 2021 em 11:20
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    Uai, rapaz, vou ver isso. Obrigado!

    Resposta
  • 8 de setembro de 2021 em 10:20
    Permalink

    Maravilha! Bora ouvir o álbum.
    Ah, eu clico na mãozinha de curtir, abaixo da sua foto e “lattes” e não marca, por quê ?

    Resposta

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