Nota de amor e gratidão a Ennio Morricone
Aprendi a gostar de cinema com os meus pais. Cresci ouvindo os dois contarem sobre estreias de filmes que lotavam os mesmos cinemas que frequentei durante minha infância e adolescência. Nós dividíamos as idas ao cinema entre essas salas e o multiplex do primeiro shopping construído na cidade ao lado da minha. Nele aos 9 anos assisti “Cinema Paradiso” pela primeira vez.
Quando estávamos na bilheteria encontramos uma amiga da minha mãe e eu, que sempre curti um spoiler bem antes de entender que ele existia, ouvi a parte da conversa em que ela disse que o filme todo era lindo e sua última cena, emocionante.
Ela nem imagina como esse dia formou um fascínio que me acompanha durante toda a vida.
Meu primeiro contato com uma produção italiana numa idade em que meus gostos estavam sendo formados me ensinou que amar o cinema tem muito de Alfredo e Totó, os personagens principais inesquecíveis do filme. É ver com olhos de encanto e descoberta, saborear os diálogos e os beijos e ouvir sua música como se fosse as batidas do coração de cada cena.
Por anos tive “Cinema Paradiso” como filme favorito e ao contrário dos outros que formam a minha lista sempre pensei nele como a soma de todas as partes que fazem uma obra de arte. Ele é o único que musico na memória antes de qualquer cenário ou fotografia, o primeiro em que as músicas criadas pela genialidade de Ennio Morricone me invadiram.
“Childhood and Manhood” tem som de brincadeira na rua e imaginar a infância do meu pai, de calças curtas e cabelo estilo Totó. “Per Elena” é amor no frio, delicadeza do toque das mãos, esperança e desilusão com o futuro.
“Love Theme” não deixa de me emocionar. É a música que embala uma das cenas mais bonitas de todos os tempos, aquela que fez a amiga da minha mãe chorar e a mim também, quando há menos de um ano assisti finalmente na vida adulta o filme que me mostrou que crescer valorizando o cinema é lindo, poético, e musical.
Ennio Morricone me ensinou a ouvir trilhas sonoras com carinho, respeito e emoção. Ele rege uma grande parte da relação bonita que o cinema construiu entre meus pais e eu. Eu costumava sempre dar um jeito de pedir para a minha mãe comprar cds que tivessem algum de seus trabalhos. Comemorei muito sua vitória no Oscar em 2016.
Chorei durante a terapia hoje e avisei que estava sensível também porque o maestro dos nossos corações cinéfilos nos deixou. O mundo está mais silencioso e ficará menos bonito.
Mas a arte de Ennio para nós é música e amor eternos.
Grazie maestro!

Beatlemaniaca, viciada em canetas Stabillo e post-it é professora pra viver e escreve pra não enlouquecer. Desde pequena movida a livros,filmes e música,devota fiel da palavras. Se antes tinha vergonha das próprias ideias hoje não se limita,se espalha, se expressa.
Stabillo*
Compartilho a sua emoção! Esse filme levo comigo, sempre, ele representa o que sinto, não só com o cinema, mas com as artes! É ela, que nos possibilita aguentar a realidade, nem sempre bela e leve.
Adoro as canetas stabilo!!