MTV Brasil: 30 anos

 

 

Eu estava lá, naquele dia 20 de outubro de 1990, ligado na Rede OM Brasil (ou será que era TV Corcovado? ) pra ver a estreia da MTV Brasil. Lembro que o primeiro clipe foi a versão eletrônica e então moderníssima de “Garota de Ipanema”, com Marina Lima. Era o sinal de que os anos 1990 haviam chegado nas nossas vidas de fãs de música. Simultaneidade era artigo de luxo no Brasil até a vinda da MTV. Passaríamos a tomar ciência das coisas com muito mais rapidez e propriedade. Se, até então, apenas a revista Bizz nos abastecia de informações, a MTV levaria este fluxo a patamares nunca imaginados.

 

A MTV nacional era ótima quando começou e evoluiu muito bem até meados dos anos 1990, sempre com a ênfase na informação. Claro, para que isso chegasse até o público, era preciso encontrar gente com habilidade suficiente para transmitir. O time era sensacional: Maria Paula, Astrid, Thunderbird, Massari, Gastão, Cris Nicklas, Chris Couto e a minha paixão da época: Cuca Lazarotto. Além deles, um dos mais competentes jornalistas de música e cultura pop do país vinha à frente das notícias: Zeca Camargo. Cada um num programa, cada um no estilo, cobrindo a necessidade de música que se tornava maior a cada dia. Era difícil resistir ao apelo.

 

Claro, há críticas, nenhuma delas sobreviveu. A imagem que a gente tem da MTV em seu auge é quase imaculada. Havia VJs ruins, programas que eu via menos que outros e detalhes assim, mas era sensacional poder ver os clipes das músicas que estavam acontecendo naquele momento. Ver “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, na hora exata em que a canção estava tomando de assalto as paradas de sucesso. Ver os shows cobertos por gente que não achava que música era sinônimo de humor. Ver bandas e artistas nacionais investindo nos clipes cada vez mais bem cuidados. E ver estes mesmos artistas locais conseguindo divulgação na emissora, que passou a cumprir o papel de mostrar à audiência o que havia de novo, de mais legal, de mais importante.

 

 

Com a MTV, a televisão tradicional brasileira optou por abraçar a música mais popularesca, deixando a produção nacional de rock e outros gêneros entregue totalmente à divulgação da MTV. Se isso iniciou um processo de lento decréscimo de audiência para o gênero, reafirmou a qualidade de muitos artistas importantes, que contaram com a MTV para chegar aos ouvidos de mais e mais gente. Ela tomou o papel do rádio na divulgação de novidades, fazendo com que os programas passassem a tocar as canções que a gente via primeiro na telinha. Foi assim com quase todas as novidades divulgadas naquela década de 1990, a MTV mostrava primeiro, o resto seguia. Isso fez com que a música nacional dos anos 1990 – a que importava – se tornasse mais independente, mais diversa, mais interessante. Culpa da MTV Brasil.

 

 

Mas ela passou como tudo tem que passar. Em busca de audiência, a emissora optou por mais e mais atrações em que a música passava a ser acessória. Vieram talk shows, desenhos animados, programas de auditório e um lento e triste abraço aos tais gêneros popularescos que passaram a moldar o pop nacional que hoje é hegemônico. E, por fim, em 2013, a MTV Brasil saiu do ar, deixando um espaço que foi preenchido pelos YouTubes e serviços de streaming da vida. Há quem prefira e o argumento é sempre a democratização do acesso, o que, no caso de MTV Brasil, é válido. A emissora sempre operou um UHF, passando a ser mostrada nos pacotes de TV por assinatura. Nunca foi uma campeã de audiência e, num mundo mais e mais orientado por lucro e números, o tal “papel social/cultural” fica de lado.

 

 

Enfim, 30 anos de MTV Brasil. Como esquecer e não agradecer ao tanto que passei a conhecer de música a partir daquele 20 de outubro de 1990?

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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