Minha Fama de Mau – Como uma Canção da Jovem Guarda

O novo longa do diretor Lui Farias, “Minha Fama de Mau”, faz uma escolha consciente: mostrar o máximo de leveza possível nos primeiros anos da carreira de Erasmo Carlos. Baseado na sua autobiografia homônima, o roteiro (escrito por Farias, L.G Bayão e Letícia Mey) centra sua narrativa entre o fim dos anos 1950 e o início dos anos 1970, pegando em cheio o período da Jovem Guarda. Mesmo que alguém possa reclamar de um certo tom condescendente na trama, o filme aguenta firme e se mostra exuberante.

Chay Suede vive o Tremendão e consegue convencer como um típico carioca da Tijuca dos anos dourados, malandro e de bom coração. A dureza dos primeiros anos é mostrada com doçura, com atenção aos amigos de infância e juventude, a tal “Turma da Tijuca”, que virou canção em 1984, no álbum “Buraco Negro”. Entre seus integrantes, o jovem Tião Maia, vivido com maestria por Vinícius Alexandre, que coloca no bolso a equivocada cinebio do cantor, feita há poucos anos. Além deles, Gabriel Leone surge como um convincente e bondoso Roberto Carlos. Fechando o elenco, Malu Rodrigues encarna Wanderlea e Bruno de Luca vive Carlos Imperial. Bianca Comparato surge em vários momentos da trama, vivendo várias mulheres da vida do cantor e compositor. Uma decisão questionável, mas que não chega a atrapalhar.

Se o primeiro ato do filme é sobre a vida de Erasmo antes da fama, o segundo é sobre o auge da Jovem Guarda e o estilo musical surge com esplendor na telona. Com direção musical de Max Pierre e participação da banda atual de Erasmo, as canções foram regravadas e os atores as interpretaram com competência suficiente. As versões de Suede impressionam pela capacidade do ator em emular o registro vocal de Erasmo, curto mas marcante. Vários números do programa da TV Record são recriados com dedicação e bom resultado.

O terço final de “Minha Fama de Mau” é dedicado ao momento em que a Jovem Guarda perde força e Erasmo – tanto quanto Roberto e Wanderlea – se vê perdidos em meio a um mundo em transformação. Para quem conhece a carreira do Tremendão, o uso de canções como “Largo da Segunda-Feira” e “Meu Mar”, presentes no ótimo disco “Sonhos e Memórias, 1941-1972” mostra o respeito que Farias teve por este período de vacas magras, materiais e existenciais, na vida de Erasmo. Até sua relação com Roberto, muitas vezes tempestuosa, foi acalmada e traduzida numa amizade quase incondicional.

Deixando de lado algumas questões técnicas e estéticas, “Minha Fama de Mau” faz jus ao biografado, ainda que seja incompleto. Pensando bem, qual cinebiografia é totalmente abrangente? Dentro da escolha do roteiro, o filme é um acerto do início ao fim e tem momentos belos, como, por exemplo, o momento em que Tião Maia, rosto banhado em lágrimas, está arranhando um violão e esboçando uma conhecida canção que gravaria anos depois.
Vejam.

Duração: 116 min.
Elenco: Chay Suede, Gabriel Leone, Malu Rodrigues.
Direção: Lui Farias
4 out of 5 stars (4 / 5)

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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