Beirut – Gallipoli
Gênero: Rock Alternativo, Folk
Duração: 44 min
Faixas: 12
Produção: Gabe Wax
Gravadora: 4AD
Quando o nome deste novo álbum do Beirut foi divulgado, pensei se tratar de algo referente à batalha homônima, ocorrida na Turquia, durante a Primeira Guerra Mundial. Nem seria tão estranho imaginar a referência, uma vez que Zach Condon, o homem por trás da banda, usa e abusa de imagens e informações do Oriente Próximo e da Europa do Leste. Mas não. A inspiração presente aqui é oriunda de Gallipoli, uma cidadezinha italiana na qual ele passou algum tempo. O resultado é belo e importante.
Beirut tem uma assinatura musical que começou a ser construida em meados dos anos 00, quando a banda surgiu como algo exótico no meio do cenário indie. Enquanto foi apenas isso, era algo bem chato de se ouvir. Até que Condon levou sua música para outra direção, abrindo mão de pompas e efeitos e investindo em camadas acústicas de pianos, metais, órgão e impressão de olhar constante para o Mar Adriático. Ou Egeu. Depende. Essa mudança veio no disco anterior, o belíssimo – e subestimado – “No No No”, gravado em 2015, e segue em “Gallipoli”.
Canções belas e tristes vão surgindo ao longo dos 44 minutos de duração do disco. A trinca de abertura – “When I Die”, “Gallipoli” e “Varieties Of Exile” – sintetiza bem o que Condon quer por aqui: um relato em terceira pessoa, com olhar ocidental, de um mundo que fica em segundo plano na mente de um senso comum geograficamente restrito e emburrecido. O ápice chega em duas canções – “Corfu” (que é uma ilha grega) e “Landslide”. A primeira, instrumental e percussiva, pontuada por órgão, é uma belezura litorânea e contemplativa. A outra, potencial hit com ascendência sinfônica, é um colosso melódico. Fechando o desfile: a estranha e beachboyana “Light In The Atoll” e “We Never Lived Here”, com cara de fim de festa.
“Gallipoli” é um disco diferente e acolhedor. Tem um ar estranho, exótico e excêntico – três coisas parecidas, mas distintas – que cativa o ouvinte desavisado. Sem mais nem menos, ele está grudado nos fones de ouvido, tentando descobrir os mil timbres perdidos por aqui. Venha conhecer.
Ouça primeiro: “Landslide”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.