Mercury Rev – Bobbie Gentry, The Delta Sweetie Revisited

Gênero: Rock Alternativo, Country Rock, Rock Psicodélico
Duração: 42 min.
Faixas: 12
Produção: Jonathan Donahue
Gravadora: Bella Union

4 out of 5 stars (4 / 5)

Rapaz, que disco bonito. Mercury Rev é uma banda americana dos anos 1990, responsável por uma das mais simpáticas reinterpretações da psicodelia dos anos 1960. Nunca chegaram a fazer muito sucesso, mas marcou seu nome no fim da década, quando lançou o belo álbum “Deserter’s Songs”. Três anos depois, ampliou o espectro sonoro dele com o ótimo “All Is Dream”, de 2001. Mesmo com estes dois álbuns, a banda nunca conseguiu se firmar como uma força vendedora de discos ou lotadora de grandes shows. Mesmo assim, o Mercury Rev seguiu em atividade pelos anos 2000 e 2010 mantendo seu low profile habitual, o que não impediu que a banda se tornasse querida entre os próprios músicos contemporâneos de geração. Não espanta portanto que, ao decidir fazer um tributo à memória da cantora country Bobbie Gentry, uma verdadeira legião de vozes femininas tenha vindo fazer parte.

Bobbie tem 76 anos de idade e deixou os palcos em 1981. Seu ápice foi na virada dos anos 1960/70, quando integrou o time de artistas que flertavam com o contry, mas que entregavam mais, eram conhecidos como “countrypolitan”, como Glen Campbell, Lee Hazlewood e Gram Parsons, para mencionar apenas alguns. O Mercury Rev resolveu centrar fogo em seu momento de maior visibilidade, justo quando surgiu com o álbum “Ode To Billie Joe”, passando por discos como “Delta Sweetie” (1968), o dueto com Campbell (também do mesmo ano), o sensacional “Local Gentry” e chegando até 1971, com “Fancy”. Todos álbuns absolutamente belos e importantes para entendermos o papel da cantora e da própria mulher nessa coisa de cantar à frente de uma banda.

Este repertório é revisitado com amor pelo Mercury Rev, que não se aprisiona pelos arranjos da época, e imprime seu próprio registro, revestindo as canções com seu instrumental polido e elegante, mas que deixa espaço para que as intérpretes possam respirar e imprimir sua marca. Das convidadas, somando tudo, temos um empate técnico entre Laetitia Sadier (do Stereolab) e Norah Jones. A primeira, revisitando a bela “Morning Glory”, se apropria do original e o transporta para um lugar próximo de seu habitat natural, o pop perfeito bossa-nova/futuro perfeito dos anos 1960. Norah, por sua vez, encarna sua persona de mulher forte e sofrida em “Okolona River Bottom Band”.

A escolha do elenco feminino, porém, dá várias dimensões ao disco. Temos a sensacional Rachel Goswell (de Slowdive e Mojave 3) trazendo luz para a bela “Reunion”; uma intrigante revisão eletroacústica de “Tobacco Road” feita por Suzanne Sundford, enquanto Marissa Nadler imprime uma levada folk intimista e cheia de cordas em “Refractions”. Fechando os trabalhos, Beth Orton com “Courtyard” e Lucinda Williams, recriando “Ode To Billie Joe” com personalidade e firmeza.

Diferente dos tributos costumeiros, cheio de vigor, curiosidade e beleza, este “Bobbie Gentry, The Delta Sweetie Revisited” muda o Mercury Rev de prateleira e revela uma banda com dimensões ainda ocultas do público. Pelo menos até agora. Uma lindeza.

Ouça primeiro: “Morning Glory”

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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