Memória da Legião Urbana em risco (ATUALIZADO)

“foto: O Globo

 

Ontem foi deflagrada a Operação Será, pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que levou à apreensão de material de trabalho de profissionais sérios do ramo fonográfico de Renato Russo. O motivo? Denúncia feita pelo filho do cantor, Giuliano Manfredini, de que haveria uma quantidade considerável de registros, feitos pelo pai, nas mãos de “produtores musicais”. Entre estes figura Marcelo Froes, dono do selo Discobertas, com uma extensa folha de serviços prestados à memória da música brasileira. Quem está certo?

 

Giuliano, todos sabem, tem um histórico espinhoso. Já entrou na justiça contra a tia, irmã de Renato, Carmen Tereza; teria expulsado sua avó materna de um imóvel que era de Russo em Ipanema, Rio de Janeiro, entre outras questões. Desde 2010 ele administra os direitos da obra de Russo, além de seus bens. São imóveis no Rio, São Paulo e Brasília, além dos fonogramas e o nome “Legião Urbana”. Ele já entrou em atrito várias vezes com Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, ex-legionários, por conta de direitos autorais e uso do nome, além de questionar participação destes nas composições de algumas canções da banda.

 

Fróes, que produziu discos póstumos de Renato Russo (morto em 1996) entre 2003 e 2010, alegou ao jornal Correio Braziliense que não tem qualquer contato com Giuliano desde que este assumiu a obra do pai. Ele efetuou uma extensa pesquisa sobre a obra de Russo, incluindo trabalhos deste em carreira solo, para que pudesse efetuar o lançamento dos álbuns “Presente”, “Uma Celebração” e “Duetos”, mas que está afastado dela desde muito tempo. Há anos, Froes dirige o Discobertas, selo responsável por colocar no mercado vários álbuns que se encontravam fora de catálogo, fazendo a delícia de colecionadores pelo país afora. Além de Froes, o proprietário de um estúdio no Rio também teve a visita da Polícia, que apreendeu vários HDs e computadores, impossibilitando-os de trabalhar.

 

Atitudes como esta mostram que Giuliano não parece ser uma pessoa aberta ao diálogo, usando de um direito concedido pelo pai para colocar em risco a memória deste. Há dois anos, por exemplo, ele anunciou um leilão em benefício do Retiro dos Artistas, no qual colocou à venda uma série de itens de colecionador de Renato Russo: roupas, livros, discos, móveis, fotos, tendo arrecadado 30 mil reais. A irmã de Renato, Carmen, escreveu uma carta aberta, manifestando o desagrado com a atitude do sobrinho, motivo pelo qual ele a processou judicialmente, pedindo indenização por danos morais no valor de 50 mil reais. Giuliano foi derrotado em duas instâncias.

 

Enquanto esta gente estiver no comando, a memória de Russo está em xeque. Artista essencial para o rock nacional, ele deveria ter sua obra liberada para o acesso integral por parte de seus fãs, visto que sua presença foi decisiva na existência de uma das mais importantes bandas da história, a Legião Urbana. Que essas pessoas se entendam e sejam mais razoáveis.

 

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CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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