Mayra Andrade – Manga

Gênero: Afrobeat, Jazz
Duração: 44 min.
Faixas: 13
Produção: Romain Bilharz, 2B e Akatché
Gravadora: Columbia

4 out of 5 stars (4 / 5)

A primeira vez que ouvi/vi Mayra Andrade foi no palco de Refavela 40, no Circo Voador.  Quem já teve essa experiência com a moça de Cabo Verde, sabe que é inesquecível. Mayra, dona de talento e beleza impressionantes, é um exemplo do que é a música lusófona hoje, em sua variação africana: moderna, cosmopolita, influenciada pela tradição e pelos sons eletrônicos das cidades europeias. Seu novo álbum, Manga” (o quinto de sua carreira), é uma prova contundente do quão legal e atual é seu trabalho.

Produzido por parceiros africanos e franceses, entre eles Romain Bilharz, que já trabalhou com Stromae e Feist, “Manga” traz treze faixas gravadas entre Paris e Abidjan, na Costa do Marfim. Seu clima é de contemplação mas sempre conectado com o que soa mais moderno. Mayra canta em crioulo caboverdiano e português, mostrando diversidades sutis que podem passar ao largo de quem olha sem muita curiosidade para seu trabalho. Há romance, há sensibilidade e extremo bom gosto. As sonoridades são familiares para pessoas que moram no Brasil, tudo parece lembrar algo que já ouvimos, sensação boa, semelhante a que temos quando pisamos em Lisboa, cidade na qual Mayra mora atualmente.

O primeiro single, “Afeto”, tem letra que reclama da falta de carinho e demonstrações públicas nos dias de hoje. É agridoce mas no ponto. Mayra olha para o mundo de outras formas. Em “Pull Up” tem noção dos fluxos da diáspora e amplia esta noção com tom triste, mas exuberante, em “Vapor D’Imigrason”, que fala de saudade, distância e como manter tradições e costumes bem longe de casa.

Quando ouvimos artistas como Mayra, nos perguntamos o porquê do Brasil ainda teimar em ser um país fechado para eles. Seria lindo vê-la por aqui, mostrando seu trabalho – tão familiar a nós e às nossas origens – em cidades grandes e pequenas do país. “Manga” é uma lindeza de disco, que vai agradar aos ouvidos mais arejados e curiosos.

Ouça primeiro: “Vapor di Imigrason”

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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