Mais um disco bacana de The Weather Station

 

 

 

 

The Weather Station – Humanhood
44′, 13 faixas
(Fat Possum)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

 

Há quase quatro anos, escrevi sobre um álbum de The Weather Station, intitulado “Ignorance”. Neste texto (que você pode ler aqui), eu me espantava por não ter ouvido falar da canadense Tamara Lindeman (que também é conhecida como Tamara Hope) e sua banda, na verdade, um projeto muito mais pessoal do que coletivo. Ao ouvir as canções daquele trabalho, a mescla sonora que Lindeman forjara parecia muito com uma cruza entre os momentos californianos e setentistas do Fleetwood Mac e a sonoridade aveludada e mais pop do Roxy Music fase-“Avalon”. Não sei por que motivo deixei passar o disco seguinte de TWS, “How Is That I Should Look At The Stars”, de 2024, mas não farei o mesmo com este “Humanhood”, que já chegou às plataformas, mostrando que Lindeman é uma compositora prolífica e ainda mais interessante do que pareceu há quatro anos. E agora, com mais corpo e autonomia artística, ela se dispõe a reeditar a sonoridade mencionada acima, mas com forte tempero da fase experimental-jazzística de Joni Mitchell, quando esta se juntou a músicos como Jaco Pastorius, Wayne Shorter e Herbie Hancock, entre outros. Mas Tamara não para por aí. Há mais para ouvir em “Humanhood”.

 

Segundo informações dadas por Tamara, as canções deste álbum surgiram a partir de um período em que ela e seus músicos se reuniram para improvisar e ver possibilidades que surgiam a partir daí. E só então, deram início à composição das novas faixas e este método conseguiu se provar eficaz em promover a tal experimentação desejada. Também manteve o mínimo de elementos para manter o trabalho no terreno do tal alternative pop. Dá pra dizer que um dos fatores que conferem essa luminosidade sonora é a voz de Tamara e sua sensibilidade. Nos últimos trabalhos, ela tem se voltado para a encruzilhada em que o pop rock mais clássico se torna alternativo e/ou indie. Essas denominações parecem vazias ou banais, mas distinguem a sonoridade que ela pratica de gente distinta como, por exemplo, Waxahatchee ou Boygenius. O que Tamara e sua turma fazem guarda muito mais identidade com este pop radiofônico de FM oitentista, como mencionamos acima.

 

Se em “Ignorance” Tamara Lindeman, focava suas letras no iminente desastre das mudanças climáticas, desta vez, os temas são mais pessoais. Em “Neon Signs”, faixa de abertura do novo álbum, a cantora entoa versos como “Eu me acostumei a me sentir como se estivesse louca — ou apenas preguiçosa/Por que não consigo sair deste chão e pensar direito?”, a partir de um tenso piano e uma exuberante linha rítmica. A canção se transforma em uma meditação suave sobre tentar entender um mundo onde experiência, desejo, comunidade e paixão parecem estranhamente alienados e transformados em mercadoria. “Todo mundo jura que precisa de você/E só de você para fazer a compra”, canta Lindeman.

 

O restante do disco passa tentando encontrar uma saída para essa situação. Em “Window”, a música decola enquanto ela canta sobre literalmente sair de sua própria janela para ganhar perspectiva. Em “Body Moves”, com seu groove sinuoso, órgão marcante e melodia suave, ela canta sobre a maneira como tentamos nos enganar para nos sentirmos melhores do que estamos. A faixa-título se transforma em uma evocação de ritmo agitado sobre encontrar catarse ao nadar em uma praia movimentada, em meio à tradicional imagem de batismo do blues. “Irreversible Damage” começa com exercícios de respiração e se transforma em um monólogo sobre lidar com o colapso pessoal e ambiental — com um arranjo sensacional que lembra os momentos mais doces do Stereolab. A “lentinha” e silenciosa “Lonely” fala sobre isolamento melancólico mas aponta a saída – pessoal – de fazer música com amigos de confiança em um bar favorito.

 

Com protagonismo do piano de Lindeman, devidamente acompanhado por vários instrumentos acústicos e de sopro, além da ótima seção rítmica do Weather Station, a sonoridade do álbum dá piruetas. Discretas. Tímidas, mas suficientemente notáveis. Um trabalho mais meditativo, experimental e pop na medida certa. Ouça.

 

 

Ouça primeiro: “Irreverisble Damage”, “Body Moves”, “Lonely”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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