Madonna – Madame X

 

Gênero: Pop, eletrônico
Duração: 64 min
Faixas: 15
Produção: Madonna, Mirwais, Mike Dean, Diplo, Billboard, Jason Evigan, Jeff Bhasker, Pharrell Williams
Gravadora: Universal

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

Quem esperava que Madonna lançasse um disco apenas dançante e conectado com os ritmos pop latinos da atualidade, se deu mal. “Madame X” é um trabalho mais complexo do que os singles que o precederam faziam crer. Sua principal virtude é mostrar o quanto a Dona Ciccone permanece conectada com as forças motrizes do mercado do entretenimento e sua capacidade de dar as cartas no terreiro do pop. Sim, houve tempo em que Madonna ditava as regras e o resto seguia cegamente. Agora as coisas mudaram, ela é mais uma espectadora atenta do que geradora de tendências, porém, sabe exatamente o que fazer e onde procurar elementos que a façam parecer moderníssima e atualizadíssima. Esta é a mágica do disco, que tem muito mais a oferecer do que os duetos com a Anitta ou Maluma.

 

“Madame X” é ambicioso como um disco de Madonna não soava desde, sei lá, “Ray Of Light”. Se fosse um vinil, talvesse desse pra dividi-lo em um lado “pop 2019”, que conteria os tais duetos com Anitta e Maluma, além das participações do rapper americano Quavo e de Swae Lee. Do outro lado estariam as canções “puras” de Madonna, com fôlego suficiente para dar ao álbum um grau de belezura que já o coloca como a melhor coisa que Dona Ciccone lança desde “Confessions On The Dance Floor”, de 2005. Dentre estas faixas em que aparece sozinha, Madonna não se restringe ao âmbito do pop dançante, ainda que mostre majestade suficiente para oferecer grandes momentos ao ouvinte. “God Control”, por exemplo, é um racha-assoalho como há muito ela não lança, com batida aerodinâmica, feita sob medida para pistas de dança multidisciplinares, propulsionada por um fraseado de cordas que talvez tenha origem na música negra americana dos anos 1970, padrão Philadelphia International.

 

Além dela, Madonna também se sai bem em “Batuka”, que não é cover da canção do Santana, mas outro monstro dançante e cheio de percussões afro-eletro-humanas e coral de resposta aos versos que ela vai proferindo. Uma lindeza de arranjo e produção – novamente entregue ao francês Mirwais, que pilota o estúdio para Madonna há quase duas décadas. “I Don’t Search I Find” é outro cavalo de batalha para as pistas de dança, com ritmo fluido e hipnótico, como se fosse algo produzido para “Ray Of Light”. “Crazy” é uma balada mais simples, com vocais e cordas em um belo arranjo, simples e direto, com refrão em português, lembrando que Madonna é uma feliz residente de Lisboa já há dois anos. “Come Alive” também é mais simples, porém mais dançante e linear, com um resultado mais interessante. Além delas, “Dark Ballet” e “Killers Who Are Partying”, duas baladas climáticas e eletrônicas, soam estranhas e superproduzidas, especialmente a primeira, que tem trechos de peças clássicas sampleadas e processadas em estúdio.

 

Entre as participações especiais, “Future”, que tem Quavo fazendo aparições vocais aqui e ali, é a melhor. Madonna surge num ritmo que se aproxima muito do reggae e tudo soa espontâneo e ensolarado, oferecendo um belo resultado. “Crave”, com Swae Lee é uma faixa de r&b moderno e sem graça, muito aquém do resto do álbum, enquanto “Faz Gostoso”, com Anitta, é apenas desnecessária, apesar de ser legal que Madonna mapeie a música eletrônica dançante brasileira como algo moderno e representativo dentre as tendências mais interessantes do pop atual. Fechando a régua, as duas colaborações com o colombiano Maluma – “Medellin” e “Bitch, I’m Loka” – comprovam que Madonna e reggaeton/cumbia é um casamento que não deve acontecer. Nunca.

 

“Madame X” é um disco legal e de difícil fruição, mas oferece recompensa para quem se aventurar por suas canções e, sobretudo, ouví-lo algumas vezes. Está longe de ser um álbum que tenha a mensagem captada e compreendida imediatamente. Quem insistir terá uma recompensa legal, ainda que Madonna esteja devendo um grande disco, pelo menos, desde 2005.

Ouça primeiro: God Control

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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