Interpol, Greta Van Fleet, Twenty One Pilots – Lollapalooza, 07/04/19

 

Último dia de Lollapalooza, shows estranhos nos palcos. Estranhos porque suscitam abordagens e interpretações mil, que talvez sejam mais apropriadas em outros campos, não aqui, no seu site sobre música e cultura pop em geral. Você já sabe, estamos fazendo nossa cobertura diretamente do sofá e dependemos da transmissão televisiva para tal. Às vezes alguns shows ficam espremidos ou não aparecem na telinha, como o da carioca IZA, que eu gostaria de ver. Ficamos, então, com três apresentações pinçadas no meio do roteiro, os grupos americanos Interpol, Greta Van Fleet e Twenty One Pilots.

O Interpol é um jovem veterano da cena novaiorquina do início dos anos 00. Musicalmente, a tal cena foi revivalista do rock pós-punk da virada dos anos 1970/80, sem muito de novo a oferecer. Dentro desse contexto, o Interpol era um representante parrudo da escola Joy Division de música, ou seja, climas, nuances, arranjos, e vigor, especialmente impressos em discos como “Turn On The Bright Lights” e “Antics”, de 2002 e 2004, respectivamente. Ao vivo, a banda funciona melhor em espaços pequenos. Em um campo aberto e ensolarado, o Interpol fica desconfortável e sem muito sentido porque há uma persona musical a ser interpretada além das próprias canções. Um certo clima de drama, de noite, de desilusão, que é tipicamente do Hemisfério Norte e pouco tem a ver com a vida sob o sol. Paul Banks e seus compadres tentaram, elaboraram um setlist que privilegiou suas canções mais conhecidas, mas o show seria melhor numa espelunca escura em algum canto.

Greta Van Fleet subiu ao palco e trouxe consigo um constrangimento que vai além das questões sobre influência e originalidade, que acompanham a banda. A postura, o som, os climas, tudo que o grupo oferece é decalcado do Led Zeppelin. Não se trata de inspiração ou algo outro termo conciliador: é tudo chupado de Plant e cia, com o agravante que os gretas precisariam de algumas encarnações para arranharem a habilidade que os ex-zeppelins têm nos terrenos da performance, da composição, arranjo, produção, ou seja, todos os aspectos da confecção da própria música a ser oferecida.

Claro, há a importância de apresentar gêneros envelhecidos para novas gerações, mas o argumento de que “não vi Led, mas vi Greta” só se justifica antes de ver os caras ao vivo. Depois disso, defender essa linha de raciocínio é hipócrita e vai contra quem espera que haja sempre – em qualquer gênero musical popular – um mínimo de criatividade e personalidade. Para a plateia do Lolla, no entanto, parecia tudo bem. É compreensível que gente com menos de 20 anos, que jamais ouviu bandas de rock dos anos 1970, ache sensacional os riffs emulados, a bateria decalcada e, sobretudo, ache exóticos os vocais, que parecem resultado de alguém que inalou gás hélio.

Depois do Greta, surge a dupla americana Twenty One Pilots. Josh Dun no baixo, teclados e vocais e Tyler Joseph na bateria. Entram no palco mascarados e valorizando o cenário, no qual há uma carcaça de carro que pega fogo de vez em quando. O primeiro mandamento da música pop diz: imagem e efeitos visuais existem para complementar músicas que não se sustentam sozinhas. Tudo bem, vamos ver no que isso vai dar. As canções subsequentes traziam elementos de rap, eletrônica, rock, reggae, pop de estádio, e todas as variações possíveis desses gêneros e estilos, dando a impressão que a dupla poderia tocar qualquer coisa que faria sentido. A verdade é que a ideia na qual se sustenta o Twenty One Pilots é a de fazer música atual, para os tempos atuais. As conexões com o passado não existem, é uma espécie de antítese do Greta Van Fleet, mas igualmente vazia e desprovida de originalidade.

Novamente, o público do Lollapalooza discorda. Cantaram todas as músicas, pularam, fizeram coreografias e se deixou reger várias vezes por Josh.

Como o rapper americano Kendrick Lamar não permitiu a transmissão de seu show, que seria, facilmente, o melhor da noite e, talvez, o melhor do Festival, nossa cobertura à distância encerrou-se previamente. Talvez a próxima empreitada da Célula Pop seja in loco, no ano que vem. Vamos torcer.

Foto: Thiago Almeira/MRossi

– Interpol 2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

Setlist

C’Mere
If You Really Love Nothing
Public Pervert
PDA
Evil
Fine Mess
Say Hello To The Angels
All The Rage Back
Rest My Chemistry
The Rover
Slow Hands
The Heinrich Maneuver
Roland

 

– Greta 0.5 out of 5 stars (0,5 / 5)

Setlist

Intro/Cold Wind
Safari Song
Black Smoke Rising
Flower Power
Watch Me
Black Flag Exposition
Watching Over
Curtain Falls
Edge Of Darkness
Highway Tune

 

– Twenty One Pilots 2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

Setlist

Jumpsuit
Levitate
Heathens
We Don’t Believe What’s on TV
Lane Boy
Nico and the Niners
Holding on to You
Ride
Stressed Out
My Blood
Cut My Lip
Morph
Car Radio
Josh Drum Battle
Chlorine
Trees

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Interpol, Greta Van Fleet, Twenty One Pilots – Lollapalooza, 07/04/19

  • 8 de abril de 2019 em 11:01
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    Eu não entendi nada! O mundo acabou mesmo, logo a originalidade não se faz necessária. Mas Interpol não dá… não dá, pô!

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