Glen Hansard – This Wild Willing

Gênero: Rock Alternativo, Folk Alternativo
Duração: 64 min
Faixas: 12
Produção: David Odlum
Gravadora: Epitaph/Anti

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Talvez você conheça Glen Hansard: ele estrelou “Once”, um filme alternativo irlandês, cuja canção-tema – composta e interpretada por ele e pela atriz tcheca Marketa Irglová – levou o Oscar de Melhor Canção há cerca de dez anos. Se você sabe disso, talvez até lembre que Hansard também é o líder de uma banda que tem belos – e ignorados – discos: The Frames. A obra do sujeito sempre foi calcada no folk, com momentos em que mergulhou um pouco mais rock alternativo ou em alguma influência de Van Morrison suspensa no tempo e no espaço. Glen leva adiante uma simpática carreira solo e este “The Wild Willing” é o seu quarto trabalho. Sai o músico tímido, com voz e violão atrás de si e entra em campo um Glen ousado e cheio de ideias na cabeça. Resultado: fez seu melhor trabalho até hoje, Frames incluso.

Não se trata de gostar do mais difícil ou do mais estranho, como poderia dizer o fã de música sem noção. Privilegiar novas estéticas e caminhos sempre é algo que faz o artista andar pra frente, expandir horizontes e manter sua arte em transformação. Ficar parado no tempo é algo que não combina com a essência da arte, ou melhor, não deveria. Glen talvez não tenha pensado em nada disso quando concebeu as canções do disco, mas elas revelaram um artista ciente da mudança e inquieto o bastante para levá-la adiante. A presença do produtor David Odlum foi essencial para que estas concepções, especialmente de arranjo e estrutura das canções, fossem postas em prática.

“The Wild Willing” não é composto por canções inovadoras em sua totalidade. As pequenas revoluções estão nas sutilezas e nos detalhes e brindam o ouvinte quando são percebidas. Elas podem surgir em várias formas: no uso do silêncio e da tensão que conduzem os sete minutos e meio de “The Weight Of The World”, uma das canções mais bonitas que ouvi em 2019; na alternância entre silêncio e explosão sonora que se ouve ao longo do single “I’ll Be You, Be Me”, que começa com um diálogo entre baixo e bateria eletrônicos e a voz sussurrada/alterada de Hansard, num crescente que vai contemplando a chegada de guitarras, teclados e metais, que tomam conta da canção sem cerimônia. Pode estar nos acordes que piano que caem como cascata ao longo de “Don’t Settle”, que se transforma numa canção radioheadiana sem afetação e cabecismos desnecessários, virando supernova no final.

A revolução pode estar na tradição transformada de “Fool’s Game”, em sua tensão de teclados e saxofone sutilíssimos, que explodem no fim. Também pode estar no dedilhado de violões com cheiro de mato molhado que conduzem “Brother’s Keeper” e seu belo verso sazonal inicial “First of October, the sun is over” ou na pungente “Who’s Gonna Be Your Baby Now”, ancorada nas tradições folk, docemente subvertidas por vocais e atitude de Hansard, parecendo soar em algum ponto entre Robbie Robertson, Mark Knopfler e Peter Gabriel.

“The Wild Willing” é um disco para ser ouvido com fones e tempo suficiente para aproveitar seus detalhes. Se possível, anote o que vai ouvindo, cordas, metais, timbres, ele é um convite à exploração e oferece resultados muito além do satisfatório. É quase um caleidoscópio sonoro, à sua espera.

Ouça primeiro: “Who’s Gonna Be Your Baby Now”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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