Fênix Negra Bateu na Trave
Está em cartaz o mais recente representante da franquia X-Men, “Fênix Negra”. Como os fãs dos quadrinhos bem sabem, a história original, “Dark Phoenix”, é uma das mais queridas da saga dos mutantes, mostrando o drama de Jean Grey, que se vê atormentada por uma força inexplicável, que desperta nela vários pensamentos e desejos malignos. Podemos entender, deixando de lado as alegorias quadrinhescas, a história como sendo uma representação da transição entre adolescência e idade adulta ou, mais recentemente, como uma amostra do empoderamento feminino. O fato é que, a certa altura dos fatos, a outrora boazinha Jean é capaz de fazer frente a Magneto e ao Professor Xavier. E o bicho pega.
“Fênix Negra” é dirigido por Simon Kinberg, que já assinou vários filmes como produtor, entre eles, fracassos como os recentes “Quarteto Fantástico e “Assassinato no Expresso do Oriente” e a terrível série da Netflix “Designated Survivor”. Por outro lado, quando o assunto é X-Men, o nome de Kinberg está ligado aos melhores momentos da série, especialmente “Logan”, “Primeira Classe” e “Dias de Um Futuro Esquecido”, talvez os melhores filmes já feitos sobre o universo dos mutantes. Por essas e outras, o resultado de “Fênix Negra” deveria ser mais interessante. Se comparado a estes outros longas, a história de Jean Grey fica bem distante.
Quem interpreta a mutante telepata em conflito é Sophie Turner, mais conhecida do público por viver a Sansa Stark de Game of Thrones. Sua atuação oscila do protocolar ao ruinzinho, com pouca ou nenhuma expressão até nos momentos de mais intensidade. Mesmo quando Jean está enfrentando terríveis provações, o semblante de Sophie não consegue acompanhar aquele que deveria ser o momento de maior provação vivido pela personagem. Além dela, James McAvoy e Michael Fassbender repetem seus papeis como Xavier e Magneto, num raso dramático de dar dó. O primeiro vive momentos de egolatria em meio a uma trégua entre humanos e mutantes vivida no início dos anos 1990 (a ação se passa em 1992) e o segundo, dentro deste mesmo contexto de paz, toca uma comunidade de mutantes outsiders numa ilha. Tudo muda com o drama de Jean e o equilíbrio vai pras cucuias.
Lamentável mesmo é a inclusão de alguns alienígenas mauzões, cuja líder, Vuk, é interpretada pela excelente Jessica Chastain. Pense comigo: se você tivesse uma baita atriz como ela, lhe conferiria um papel em que, eminentemente, sua personagem não tem qualquer emoção? Pois é esta a escolha do diretor/produtor. Além disso, a presença dos aliens no roteiro só serve para atrapalhar uma história que é redonda e acaba soando improvisada e retilínea demais. Novamente temos mutantes importantes como Mística e Fera (revividos por Jennifer Lawrence e Nicholas Holt), em aparições secundárias, algo que sempre é irritante até nos X-Men.
Ao fim do filme, a impressão nítida é que a franquia, como está hoje, já deu muito mais do que podia. Fica a esperança de que X-Force, a nova saga, já anunciada e que tem o mesmo Kinberg como produtor, dê uma oxigenada na coisa. Por enquanto, chega de X-Men.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.