Eli ‘Paperboy’ Reed – 99 Cent Dreams

Gênero: Soul, Pop Alternativo
Duração: 38 min.
Faixas: 12
Produção: Matt Ross-Spang
Gravadora: Yep Roc

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

Em 2014, Eli Paperboy Reed tentou mudar um pouco sua orientação sonora. Isso significou deixar de lado o seu soul vintage estilizado e partir para uma variante musical mais pop, mais sintonizada com o presente, movimento materializado por seu álbum “Nights Like This” Se deu mal, especialmente porque Reed é um desses estetas do soul, um cara que encontra sua razão como artista e encanta seu público, justo por fazer música que tem parentesco direto com canções douradas da gravadora Stax, produzidas lá por 1967/70. Se eu fosse músico, interpretaria esta declaração como um elogio sincero, mas muita gente parece se incomodar com artistas que revisitam gêneros que tiveram sua época em outros tempos. Eli percebeu isso e deixou seu disco modernoso de lado e voltou ao abraço sincero a sonoridades e timbres velhuscos, felizmente. “99 Cent Dreams” é sobre isso, sobre como soar interessante fazendo som intencionalmente datado.

Na verdade, Reed radicalizou no espírito vintage de sua empreitada sonora. Gravou as canções do álbum no mitológico Sam Phillips Recording Studio, em Memphis, e recebeu a participação nos backing vocals do grupo The Masqueraders, um dos grupos vocais com mais tempo de estrada na soul music, tendo iniciado atividades na virada dos anos 1950/60, na mesma Memphis. Surpreendentemente, o resultado sonoro de “99 Cent Dreams” não é 100% Stax como os trabalhos anteriores de Reed, estando muito mais próximo de um pop soul dourado e arejado, de bandas como The Young Rascals, algo que é ainda mais bacana, pois significa uma mudança de orientação sonora dentro do terreno do soul mais clássico. Isso dá uma arejada nas canções sem que se perca de vista a intenção de homenagear os gigantes do passado enquanto se fala do presente.

Além de revisitar esses timbres e climas, Reed é bom cantor e guitarrista, o que garante o nível alto de boas canções. “News You Can Use” é um bom exemplo, que surge logo na abertura do álbum, em alto astral. “Holiday” é legal e totalmente pop, dentro desta lógica que mencionamos acima. “Coulda Had This” é mais lenta, com introdução e arranjo de piano que lembra “People Get Ready”, dos Impressions. “Tryin” é inflamável e com punch de bateria, órgão e guitarras acima do bem e do mal. “New Song” tem pinta de número mais rápido, não totalmente soul, mas tangenciando o rock, num sentido de grupos como Rare Earth. O fecho é com uma bela e rara balada, “Coundn’t Find A Way”.

Quando as canções são muito próximas da mera cópia, a coisa dá um pouco nos nervos. É o caso de “Bank Robber”, canção mais tradicional, mas cara de número de programas como America’s Got Talent. Assim também acontece com a faixa-título, “Burning Up” e “Lover’s Compensation”, que soam chatas e meio fora do clima do álbum.

Eli ‘Paperboy’ Reed é isso: soul de outra época hoje, feito para quem está mais interessado em detalhes e reminiscências sonoras, nada muito além. É música bem feita, legal mas que você vai deixar de lado para cair dentro dos originais. E o próprio Eli sabe disso.

Ouça primeiro: “Coulda Had This”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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