Eddie Vedder vai bem além do Pearl Jam em disco solo

 

 

Eddie Vedder – Earthling

Gênero: Rock alternativo

Duração: 48 min
Faixas: 13
Produção: Andrew Watt
Gravadora: Republic Records

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

Eu gosto do Eddie Vedder e acho que ele deve ter se divertido fazendo seu novo álbum, “Earthling”. Deixou de lado o seu temível ukulele e juntou uma banda de gente boa – Benmont Tench nos teclados; Josh Klinghoffer e o produtor Andrew Watt nas guitarras, Chad Smith na bateria e Pino Palladino no baixo – e foi pro estúdio gravar um punhado de canções descoladas do que se costumava chamar de pop rock. Além dessa turma, Eddie contou também com três participações estelares: Elton John, Stevie Wonder e Ringo Starr, ou seja, não dá pra gente dizer que estamos diante apenas do “trabalho solo do vocalista do Pearl Jam”, e sim de um evento musical importante. Mesmo que Vedder já tenha feito discos solo e gravado um bom número de canções sem sua banda original, é em “Earthling” que ele dá um passo maior e mais firme na sua presença como um cantor solo.

 

O maior cuidado que Eddie tem é de não soar parecido com o Pearl Jam, mesmo que sua voz seja uma das marcas registradas do grupo desde sempre. Se, no passado, ele investiu em arranjos que tinham mais espaço para voz e instrumentos acústicos, especialmente o ukulele, aqui ele usa o formato de banda convencional de forma deliberada, fluindo na mesma linguagem pop rock que o Pearl Jam. Nada errado nisso, claro, afinal de contas, é a linguagem comum a ambos desde sempre, mas o que “Earthling” apresenta – e que o PJ nao permite – é uma diversidade de estilos que trafegam no grande entroncamento do pop rock convencional e isso dá a Eddie a chance de provar que é um vocalista muito mais versátil que apenas “o cantor de voz rouca do grunge”, como muita gente ainda deve pensar por aí. Podemos dizer que esta é a maior preocupação do novo álbum, a de mostrar Vedder versátil, arejado e não tão preocupado com engajamentos e missões sócio-humanitárias, apenas um cara cantando suas músicas à frente de uma boa banda e nada mais. E ele consegue, na maior parte do tempo.

 

Há três momentos em que “Earthling” poderia ser um disco do Pearl Jam. Se a gente levar em conta o que a banda apresentou no último álbum, “Gigaton” (2020), haveria espaço para uma faixa como “Power Of Right”, que é um rockão convencional, com bateria processada em efeitos oitentistas e uma melodia bem feita e grudenta, num habitual idioma roqueiro oitentista. “Good And Evil” e “Rose Of Jericho”, engatadas uma na outra, têm guitarras nervosas e vocais gritados, com Vedder exibindo sua forma habitual, mandando bala. A mixagem e a produção são muito precisas para fornecer o máximo possível de gume rock para que as guitarras de Klinghoffer – que não é exatamente um sujeito que tenha peso no instrument0 – consiga soar convincente. Uma vez resolvido com êxito este problema, as três canções têm pedigree pearljâmico talvez por associação com o vocal do próprio Eddie, o que, certamente irá fazer sorrir os fãs dedicados.

 

O legal em “Earthling” é, sem dúvida, o tanto de tempo que Vedder passa soando em situações totalmente distintas de sua banda-natal. No primeiro single do disco, “Long Way”, ele já havia mostrado que podia ser um mix de Tom Petty e Bruce Springsteen em suas facetas do fim dos anos 1980, com um arranjo bem bonito, próximo do classic rock carimbado. Os outros singles, “Brother The Cloud” – uma canção que também tem um DNA que caberia no Pearl Jam, mas que tem um arranjo mais usual e oitentista – e a ótima balada “The Haves”, mostram a versatilidade do homem, mas ninguém poderia imaginar o r&b à moda antiga de “Try”, envenenado por guitarras noventistas e a gaita alucinada de Stevie Wonder ou a baladaça ao piano com tons psicodélicos de “Mrs Mills”, com bateria de Ringo Starr. “Picture”, com Elton John, é outra canção surpreendente, que arranha o r&b e o jazz pianístico, enquanto a ótima “Fallout Today” lembra algo que poderia ser de Bob Seger And The Silver Bullet Band.

 

Eddie Vedder se saiu com um belo disco solo. Certamente é o seu debut neste caminho, com o tamanho e a importância que ele merece, cercado de gente grauda, mas de um monte de amigos. Que “Eartling” seja ouvido pelo maior número de pessoas e abraçado como um trabalho digno de figurar entre as boas e honestas reuniões proporcionadas pelo desejo de fazer um bom disco de rock e nada mais.

 

Ouça primeiro: “Mrs Mills”, “The Fallout”, “Try”, “Long Way”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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