E o Bryan Adams, que tá felizão?

 

 

 

Bryan Adams – So Happy It Hurts

Gênero: Pop, rock

Duração: 39 min.
Faixas: 12
Produção: Bryan Adams, Robert “Mutt” Lange
Gravadora: BMG

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Quem deitar seus ouvidos sobre as doze agitadas faixas deste novíssimo álbum de Bryan Adams, jamais poderá pensar que ele é um dos maiores artesãos de baladas pop rock em atividade. Verdade seja dita: Bryan é um popstar discreto, que fiz sucesso impressionante nos anos 1980 e início dos 1990, vendeu milhões de cópias e até hoje tem canções que tocam nos programas de flashback da vida. Mas, por outro lado, o canadense sempre teve uma verve hard rock de levíssimos teores, que se manteve intacta durante toda a sua vida. Quem lembra, por exemplo, de “Somebody”, hit seu de 1984? É o tipo de canção “rock” que Bryan é capaz de escrever, com arranjos de guitarras, bateria pulsante e refrão que explode para uma plateia cantar junto com ele em estádios lotados. E daí vem a alegria que toma conta – até do título – de “So Happy It Hurts”: Bryan está celebrando a diminuição de intensidade da pandemia de covid-19, possibilitada após a vacinação e as medidas de distanciamento social. Se ele chegou a pensar que os shows ao vivo estavam definitivamente comprometidos, agora, início de 2022, já dá pra ver que será possível se apresentar novamente e correr o mundo. Sendo assim, Bryan chega muito feliz e animado com este novo disco e você vai gostar.

 

Vai gostar porque não há faixa ruim no álbum. A produção é de Adams e do parceiro Robert “Mutt” Lange, um cara que assinou produções de álbuns como “Back In Black”, do AC/DC e “4”, do Foreigner, só para citar dois clássicos do hard rock planetário. Mais recentemente, Mutt assinou álbuns do Muse e já tem duas parcerias com Adams ao longo do tempo, sendo que, uma delas é o multplatinado álbum “Waking Up The Neighbours”, de 1991, que trazia a canção “(Everything I Do) I Do It For You”, tema de “Robin Wood”. Neste novíssimo álbum, ele pilota o estúdio e Bryan toca todos os instrumentos em quase todas as canções, dando a entender o quão pessoal é este projeto. O único problema é que o disco saiu justamente na semana em que os combates na Ucrânia se intensificaram, algo que, convenhamos, Bryan jamais poderia saber. A felicidade que está ao longo das canções é aquela mais escapista e oitentista possível, a de entrar num carrão possante, seguir uma uma autoestrada qualquer a toda velocidade, com uma cerveja na mão e um boné de baseball na cabeça. Bryan, que está conservadão para os seus 62 anos, ainda convence nesse papel.

 

O que espanta por aqui é o altíssimo nível das canções. Se você é modernoide e espera novidades sonoras, no entanto, este disco é, certamente, o oposto do que você deseja. Bryan fez um álbum para seus fãs, seus contemporâneos, na onda de “os 60 são os novos 35” e estão com disposição de sobra para dar uma escapada de suas rotinas sem graça. E nada melhor do que fazer isso com o velho ídolo do passado, que dá provas de vida ao longo de todo o álbum. E há detalhes interessantes aqui, como o flerte com o country em “I’ve Been Looking For You”, que soa como uma música de bar de beira de estrada, rapidinha e simpática. “Let’s Do This” também tem um pouco de chapéus de cowboy sob a luz da lua, mas o andamento é diferente e pende mais para o pop. “Just Like Me, Just Like You” tem algo em sua bela melodia que a conecta com Tom Petty ou Bon Jovi do fim dos anos 1980. E das doze canções, apenas três são baladas. A faixa de encerramento, legítima representando do cânon baladeiro do cantor, “These Are The Moments That Make Up My Life” – que tem guitarras e climas legais -, “You Lift Me Up” e “Always Have, Always Will”, esta última com um andamento … reggae. Funciona.

 

Mas o grande traço deste álbum é o hard rock revivalista dos anos 1980, tendo o Bon Jovi e os próprios trabalhos pregressos de Adams na época. Sendo assim, fica difícil resistir à faixa-título e à porrada que é “Kick Ass”, com direito a uma locução feita por … John Cleese, o ex-Monty Phyton. E tem belos momentos como as guitarras de “On The Road”, a explicitude e o ritmo cadenciado de “I Ain’t Worth Shit Without You”, sem falar no ritmo acelerado da bateria – tocada pelo próprio Bryan – em “Just About Gone”, outra que tem um acento meio country.

 

Tenho pra mim que a maioria das pessoas que torcem o nariz para Bryan Adams só o conhecem por seus hits e não levam fé que o canadense tenha uma verve rocker, ainda que bem light. Se há uma bela chance para constatar este lado de sua personalidade musical, ela está aqui, neste álbum. Ouça e se divirta.

 

Ouça primeiro: “Just About Gone”, “Just Like Me, Just Like You”, “Kick Ass”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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