Des – moro – nando

 

 

A cada dia temos uma nova evidência do caráter venal da operação lava jato. Anteontem publicamos texto sobre como a ação de juízes e procuradores proporcionou sucessivas violências à Constituição que resultaram em vários inquéritos e processos suspeitos, responsáveis por prisões, acusações e erosão de políticos. Todo mundo sabe as consequências, as vivemos todos os dias em todos os cantos. E, como cereja radioativa do bolo, temos a pandemia da covid19. Mas, se há um rosto para este processo todo, ele é o do ex-juiz sergio moro.

 

Seus diálogos com o procurador federal deltan dallagnol, aquele do powerpoint do Lula, que teve acesso a eles e está divulgando seu conteúdo via imprensa, são a prova cabal de que a justiça é … diferente no Brasil. Uso o termo “diferente” porque o que moro, dallagnol e os outros integrantes da lava jato fizeram é qualquer coisa, menos justiça. Foi o exercício de um posicionamento político, turbinado por patrocínio midiático, idolatria descerebrada e desapego à democracia. Com o apoio da mídia hegemônica, moro e sua turma erodiram as bases da república, proporcionaram o impeachment de uma presidente eleita democraticamente e sem crime de responsabilidade, como também obtiveram a prisão de um ex-presidente, baseados em acusações suspeitas e fantasiosas em sua maioria. E, se não eram desta natureza, todos os processos deveriam ser anulados por conta da evidente associação entre acusação – o MPF, representado por dallagnol – e o juiz federal moro, representando o próprio Judiciário.

 

Não havia neutralidade, um princípio básico do Direito. Havia um conluio entre quem julga e quem acusa, restando a quem se defende uma desigualdade numérica inapelável e decisiva.

 

Pois bem, moro foi adotado pela mídia. Foi para o exterior fazer palestras em universidades e congressos. Fez uma bela mala de dinheiro. Imagina o arrependimento destes contratantes? Ele foi adotado até por setores da esquerda, que repetiram a famigerada fala da mídia: “o PT precisa fazer uma autocrítica” à exaustão. Lembram? Como esquecer disso?

 

E como esquecer as inúmeras pessoas que usaram camiseta com a cara do moro? Pedindo justiça para os corruptos, que moro colocava na cadeia? Lembro de gente sem emprego, ferrada, aplaudindo a ação do ex-juiz. E lembro das plateias de shows de bandas como Skank e Capital Inicial – de quem moro é fã assumido – aplaudindo o ex-juiz. Que vergonha, né?

 

Ter achado que moro era um paladino da justiça é, sim, prova de burrice ou má fé.

 

Ter comprado o discurso da mídia de que ele era um Supermoro – lembram? – é prova de burrice e má fé.

 

Ter achado natural sua escolha para ministro da justiça no governo federal é prova de má fé.

 

E a mídia, que o ama, ainda tentou colocá-lo como um grande representante da decência, quando ele se demitiu deste mesmo governo, sob alegação de desprestígio na indicação de nomes para cargos importantes da polícia federal.

 

moro nunca enganou quem sabe o quão difícil é redistribuir riqueza no país.

 

Abaixo está o vídeo com o voto do ministro do STF Gilmar Mendes, que fala que talvez seja melhor que os diálogos entre moro e dallagnol sejam falsos porque, se forem verdadeiros, estaremos diante de uma das maiores farsas jurídicas de todos os tempos.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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