Collective Soul e Goo Goo Dolls x Passado

 

 

Eu confesso pra vocês: houve tempo em que eu adorava as bandas pós-grunge americanas. Sim, é verdade. Eu era bem mais jovem, tinha ouvido bem menos coisas do que hoje em dia, conhecia bem menos de música pop e, para mim, ouvir aquela gente com arranjos em que não havia espaço para teclados e sobrava privilégio para guitarra-baixo-bateria, era o máximo. Eu achava sensacional essa coisa do “menos é mais”, algo que odeio já há algum tempo. Enfim, eu gostava bastante de Collective Soul e Goo Goo Dolls em algum ponto da segunda metade dos anos 1990. Hoje, cerca de trinta anos depois, vejo que ambos os grupos lançaram discos e, depois de ouvi-los, constato que este rock pós-grunge, alternativo ma-non-troppo, é completamente inócuo em 2022. Se você quer algum tipo de novidade, algo que te instigue, que atice sua curiosidade, esta sonoridade não é a mais indicada. Ela é, sim, totalmente recomendada para gente que gosta de ouvir o passado no presente e dizer que, neste caso, “ainda é possível fazer rock’n’roll de verdade” ou algo assim. Senão vejamos.

 

É bom que se diga que “Chaos In Bloom” e “Vibrating”, os últimos trabalhos de Goo Goo Dolls e Collective Soul, respectivamente, são bons álbuns de rock pop. São bem produzidos, têm em mente a necessidade de soar atuais e uma boa leva de composições que não vão fazer feio em meio ao catálogo de ambos os grupos. Há guitarras de sobra, alguns teclados bem postados, entregas vocais convincentes mas, repito, a sensação de que estamos em 1998 é dominante nos dois discos. Houve tempo em que eu adoraria ganhar uma passagem de ida para algum ponto do passado e lá ficar, com a certeza de quem é um tempo melhor ou de que é um tempo “menos pior” que o hoje, porém, isso já passou. Não tenho mais qualquer vontade de regressar e, só com a passagem dos anos, é possível perceber que os trabalhos dessas bandas – e de várias outras como Matchbox 20, Tonic, Wallflowers, Toad The Wet Sprocket, Third Eye Blind, Bush, Live e mais algumas que me fogem da memória, ficaram irreversivelmente datados. Das duas uma: alguém de pouco originais, estas formações não tinham grandes composições em seus catálogos e, talvez por isso, não tenham sobrevivido ao tempo.

 

Isso pode explicar porque bandas contemporâneas dessas como Buffalo Tom, Everclear, Gin Blossoms, Semisonic, Soul Asylum (essa é mais antiga um pouco), Mutton Birds, Spin Doctors e até o Fastball tenham um pouco mais de prestígio artístico ou, sei lá, talvez sejam as minhas preferidas neste balaio noventista sub-grunge. O fato é que os novos trabalhos do Goo Goo e do Collective Soul servem de experimento para esta percepção. O primeiro disco do Collective Soul, oriundo da Georgia, que ouvi foi o “Hints, Alegations & Things Left Unsaid”, lançado em 1994, por recomendação do meu amigo-irmão Leonardo Salomão. De fato, puxado pelo single “Shine”, o álbum tinha uma aprazível e confortável fórmula de soar como um Pearl Jam mais levinho e descompromissado. Ainda que isso fosse legal naquele tempo, eu preferia mesmo a banda de Eddie Vedder e sua turma. O Collective Soul perdeu o interesse rapidamente para mim, mas eu ainda me lembro de adquirir o álbum seguinte, homônimo, que foi puxado por uma baladinha chamada “The World I Know”, não por acaso, terrivelmente parecida com o maior hit da história do Goo Goo Dolls, “Iris”, que seria composta apenas três anos depois.

 

 

 

 

Nesta época, o Goo Goo Dolls, oriundo de Buffalo, estado de Nova York, ainda fazia sua transição em termos sonoros. Deixava para trás um passado meio punk para abraçar essa tal sonoridade alternativa. Este movimento foi sacramentado pelo álbum “A Boy Named Goo”, de 1995, puxado por dois hits massivos – “Name”, uma semi-balada guitarreira, e “Naked”, enguitarrada e parecida também com canções como “Summer”, do Buffalo Tom e “Pain Lies On The Riverside”, do Live. Com o terreno preparado por este álbum, a banda fez uma excursão enorme por Estados Unidos e Europa em 1996/97, compondo, no meio do caminho, a balada “Iris”, que seria seu maior sucesso em todos os tempos. A canção entrou na trilha sonora do filme “Cidade Dos Anjos”, com as presenças de Meg Ryan e Nicholas Cage no elenco e, daí, despontou para os quatro cantos do mundo. A canção entrou no álbum seguinte do grupo, “Dizzy Up The Girl”, de 1998, e consolidou o Goo como um dos grandes vendedores daquele fim de milênio. E o álbum – que é legal – ainda tem outros três hits menores – a faixa-título, “Black Balloon” e “Slide” – cheios de um chacundum guitarreiro totalmente noventista e bem característico, que vocês detectarão ouvindo as canções. Tenho certeza.

 

 

 

 

Depois disso, na virada do milênio, com a vida batendo na porta com mais força, fui deixando de lado essas bandas e suas canções passaram a funcionar apenas como memória afetiva. Hoje, ouvindo os novos álbuns de Goo Goo e Collective Soul, tive certeza de que é um som que já teve seu melhor momento e ainda persiste aí. É claro que sempre há a escolha em ouvir qualquer coisa, e tanto “Vibrating” como “Chaos In Bloom” estão disponíveis nos streamings, prontos para te receber. Talvez ele faça mais sentido se você estiver em busca de algo que tenha total conexão com outro momento no tempo – e nada de errado há nisso. Para o bem e para o mal, 2022 tem outra cara.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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