Cinco discos de Jerry Lee Lewis

 

 

Hoje, 28 de outubro de 2022, The Killer, Jerry Lee Lewis, partiu deste mundo para integrar a Grande Orquestra do Pós-Vida. Ele tinha 87 longos anos de serviços prestados à música popular americana. Ainda que Jerry seja mundialmente conhecido por suas primeiras canções rock, lá do meio da década de 1950, ele foi um artista country durante a maior parte de sua carreira, mais precisamente, de meados dos anos 1960 até o fim da década de 1980, quando foi “redescoberto” por conta do filme “Great Balls Of Fire!”, baseado no início de sua carreira, sendo interpretado por Dennis Quaid, que aprendeu piano para poder interpretá-lo com mais precisão. Sim, falar de Jerry Lee é falar de seu uso peculiar do mais aristocrata instrumento da música popular mundial. Seu jeito de esmurrar as teclas, subir no piano, atear fogo nele, enfim, todas performances de sua carreira estão para o instrumento como as de Hendrix estão para a guitarra. No meu caso, a primeira vez que ouvi falar de Jerry Lee Lewis foi vendo “Top Gun”, que tem uma cena bonitinha em que Goose (Anthony Edwards) a toca no piano, acompanhado de Maverick (Tom Cruise) e sua esposa, Pamela (Meg Ryan). A sequência do filme, “Top Gun: Maverick”, deste ano, traz uma nova cena com a música, dessa vez interpretada por Rooster (Miles Teller), filho de Goose.

 

 

 

 

 

 

Separamos cinco discos bacanas da carreira do Killer – são muitos, muitos mesmo – para mostrar que o homem tinha uma vitalidade impressionante e mandou ver em apresentações desconcertantes ao longo da vida. Um detalhe: os álbuns ao vivo de Jerry são especialmente bacanas e separamos dois nesta seleção, um deles, de 1964 e o outro, de 2011, separados por 47 anos no tempo, ambos mostram um homem encapetado no palco. Mas há mais. Vamos lá.

 

 

Live At Third Man Records (2011)

Registrado na gravadora de Jack White, em Nashville, este disco é a prova viva de que Jerry, 76 anos então, ainda era capaz de oferecer um grande, enorme show de rock. Acompanhado por mestres em seus instrumentos, a saber, Jim Keltner (bateria), Steve Cropper (guitarra) e Jack Lawrence (baixo), o Killer vai enfileirando seus sucessos rock sem deixar o pendor country de lado. Versões especialmente demolidoras de “Down The Line”, “Great Balls Of Fire” e “Whole Lotta Shakin’ Goin’ On” estão presentes entre as treze faixas dessa porradaria.

 

 

 

 

Live At Star Club Hamburg (1964)

Se a gente falou em porradaria no álbum anterior, aqui estamos imersos no mais quente dos caldeirões rock de todos os tempos. Jerry enlouquecido no palco de uma espelunca nas docas de Hamburgo, onde os Beatles haviam transitado anos antes, à frente de uma banda disposta a tudo. Não há como escolher uma preferida por aqui, mas temos que lamentar o fato do álbum estar incompleto na versão disponível em streaming. Mesmo assim, as oito faixas presentes são verdadeiras escrituras do rock primordial.

 

 

 

The Complete Sessions In London (1973)

No início dos anos 1970 houve um aumento de interesse pelo rock dos pais fundadores do estilo e muitos álbuns juntando músicos veteranos e jovens foram gravados. Neste caso, Jerry estava em pleno esplendor country de sua carreira, mas topou gravar um disco de rock com vários músicos ingleses e irlandeses, entre eles, os guitarristas Rory Gallagher, Peter Frampton, Albert Lee e Alvin Lee, entre outros, e integrantes de sua banda de shows habitual. O resultado é bem interessante, com Jerry duelando com guitarras e órgãos da nova geração. Versões muito bacanas de “Bad Moon Rising” (Creedence Clearwater Revival), “Early Morning Rain” (Gordon Lightfoot), “What I’d Say” (Ray Charles) e remakes de sucessos já gravados pelo próprio Jerry, como “High School Confidential” e “Rock’n’Roll Medley” mostram que o homem tinha a magia nos dedos.

 

 

 

 

The Killer Rocks On (1972)

Outro trabalho da mesma época que “The Sessions In London”, este “Rocks On” mostra que o Killer era um frequentador assíduo das paradas de country e um bom vendedor de discos. A versão para “Don’t Be Cruel” (imortalizada por Elvis mais de dez anos antes) e uma maravilhosa leitura para “Me And Bobby McGee”, de Kris Kristofferson, mostram que o homem conseguia ser criativo nos arranjos e interpretações tanto quando era na hora de martelar os pianos. Aqui, com uma produção mais quadrada e mais contido, dá pra termos uma boa amostra do que Jerry significava como um artista se equilibrando entre o country e o rock.

 

 

 

 

Live At The International, Las Vegas (1970)

Não eram só Elvis e Frank Sinatra que batiam ponto nos cassinos de Las Vegas nos anos 1960. The Killer levou seu show country para o palco do The International por um bom tempo e lapidou um repertório totalmente voltado para o estilo. Este álbum, além de mostrar que o homem mandava bem em qualquer ritmo no palco, mostra como era um show de Jerry para uma plateia “adulta”. Ele passeia por números mais animados como “Jambalaya” e “Flip, Flop And Fly” mas também manda bem na baladona “She Still Comes Around” e na cadenciada “Once More With Feeling”.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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