Bruce Springsteen – Western Stars

Gênero: Rock, pop
Duração: 50 min
Faixas: 13
Produção: Ron Aniello
Gravadora: Sony

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Os Estados Unidos são um país mas também são uma ideia. Para muitos isso pode soar um golpe de marketing geopolítico, para outros, algo palpável. Esta ideia, este sentimento, passa, necessariamente, pela liberdade, pela autorização para percorrer caminhos, perseguir – e alcançar – sonhos e tal. Várias expressões artísticas do audiovisual estadunidense evocaram isso ao longo do tempo e, entre elas, está a música pop, que ganhou seu momento de glória absoluta entre os anos 1960/70. Esta ideia de América, de lugar onde está o seu sonho ao seu alcance é evocada pelo tipo de música que inspira Bruce Springsteen neste seu novo disco, “Western Stars”. De algum lugar do mais alto dos
céus, Glen Campbell sorri ao ouvir estas 13 faixas de belo pop orquestral.

 

Bruce sempre teve seu maior atrativo nas letras e na capacidade de dar voz ao americano médio. Aquele sujeito de bom coração, que dá duro num emprego opressor, que tenta criar sua família dentro do que acha certo e tal. Este Bruce a gente conhece bem e gosta, ainda que suas narrativas às vezes sejam americanas demais e isso não é um problema, pelo contrário. Bruce é capaz de fazer brasileiros, espanhóis, japoneses e, provavelmente, marcianos, se identificarem com suas histórias. Mesmo assim, o Bruce compositor de melodias nunca foi seu principal personagem. Sempre tivemos em primeiro plano o Bruce contador de histórias, o trovador da classe operária, o herdeiro das folk songs ancestrais, o ouvinte contumaz do rádio AM dos anos 1960.

 

Aqui temos outro Bruce. O ourives, o cara que tem sensibilidade para encapsular seu canto rascante dentro de limites acolchoados de arranjos de orquestra, cordas, sopros e, em primeiro plano, melodias celestiais. “Western Stars” é um disco de canções, de se ouvir com fones de ouvido para prestar atenção nos detalhes do tecido sonoro, em como a voz de Bruce se adapta a estruturas que não exigem suas explosões de refrão e sua rouquidão sôfrega. Aqui está tudo em paz: é Bruce numa picape pelos caminhos da América em widescreen ou cinemascope, dependendo do seu referencial. Lá está ele, com cabelos ao vento, em busca do sonho, vendo seu eldorado pessoal logo ali, depois da curva da estrada, ou chegando num trem, vindo de algum lugar.

 

Convenhamos, todo este imaginário é bem bonito e fácil de se gostar. Para quem é fã de pop radiofônico dos tempos idos, “Western Stars” é um prato cheio. Canções como “Hitch Hikin”, “Tucson Train” ou a faixa-título, são pequenas revelações para o ouvinte neófito dentro da obra do Boss.Em “Sleepy Joe’s Cafe”, Bruce cede às suas influências mais notáveis e se sai com uma belezura que evoca sucessos sessentistas de Van Morrison mas volta aos trilhos da proposta do álbum em “Sundown” e, a partir de “Stones”, vai até o fim como se nos estivesse levando pelas alamedas do mais refinado pop americano atemporal.

 

“Western Stars” é um belo disco, cheio de motivos para ser ouvido e gostado, não só por fãs de Bruce, mas da boa música. É convidativo, receptivo e cheio de carinhos auriculares à espera. Ouça.

 

Ouça primeiro: “Sundown”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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