Bon Jovi – 2020

 

Gênero: Rock

Duração: 48 min.
Faixas: 10
Produção: John Shanks, Jon Bon Jovi
Gravadora: Island/Universal

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

Jon Bon Jovi se tornou um filantropo/ativista social nos Estados Unidos. Há tempos mantem um restaurante popular, no qual oferece refeições a preços baixíssimos, além de se manifestar e posicionar sobre questões políticas dentro de seu país com bastante frequência. Este novo álbum do Bon Jovi, a banda, é um reflexo inevitável deste e de outros fatos. Jon já não é o mesmo cantor de outrora, se tornou um homem sério de meia idade e, ao transportar para sua música as atitudes louváveis de sua vida pessoal e pública, arranha parâmetros já fixados há tempos por gente como Bruce Springsteen e Bono. Sendo assim, após ouvir as dez faixas deste “2020”, o décimo-quinto disco do grupo de Nova Jersey, a impressão que temos é um mix de sonoridades rock/pop que poderiam ser executadas por alguma banda cover da E Street Band, com um vocalista que mistura tiques do Bon Jovi recente e um desejo messiânico de ser o que Bono Vox era para o U2 da segunda metade dos anos 1980. Seja o que for, a explosão pop-rock festeira dos trabalhos mais clássicos dos caras ficou, definitivamente para trás.

 

Aliás, talvez tenha ficado pra trás desde “Have A Nice Day”, que já tem quinze anos de lançada e a banda já soltou seis discos, contando este novo “2020” e seus shows seguem calcados neste passado glorioso. Tudo bem, nada de errado nisso, qualquer banda ou artista evolui, modifica sua arte e segue em frente. Só que a opção feita pelo Bon Jovi levou embora qualquer sombra de diversão que havia em sua música, deixando para trás uma banda meio sem razão para continuar existindo. Talvez fosse melhor de Jon saísse em carreira solo e levasse adiante seu trabalho sem comprometer o passado da banda, talvez não. O fato é que a saída do guitarrista Richie Sambora, em 2013, também contribuiu para uma uniformização sonora que pode ser confundida como uma banda que opera no piloto automático, ainda que os dois discos anteriores, especialmente “This House Is Not For Sale”, de 2016, tenham mostrado algo interessante em termos de postura e letras.

 

O fato é que “2020” é um disco chato, mesmo dotado de ótimas intenções. O álbum estava programado para ser lançado em 15 de maio de 2020, junto com o videoclipe “Beautiful Drug”, mas foi adiado. Durante a quarentena, foram escritas mais duas canções:”Do What You Can”, que representa a luta contra a pandemia e “American Reckoning”, uma música de protesto sobre a morte de George Floyd e apoio ao movimento Black Lives Matter. Antes do adiamento, as canções “Luv Can” e “Shine” inicialmente faziam parte do álbum, mas foram substituídas pelas novas composições. A ordem das faixas também mudou, tendo em vista que a primeira versão do álbum deveria começar com “Beautiful Drug” e terminar com “Blood in the Water”.

 

Sendo assim, o que se ouve ao longo dos quase 50 minutos de música, é um compêndio de faixas que orbitam o padrão pop-rock mais careta possível, sem qualquer fiapo de inventividade ou sinal de atualização. Não há tampouco um abraço vigoroso a um ou outro formato, é, como já dissemos, a banda operando no piloto automático e até faixas como a vigorosa “American Reckoning” soam burocráticas. E há momentos lamentáveis, como, por exemplo, “Limitless”, que abre o disco com um pique a lá Coldplay versão 2013. “Do What You Can” é uma faixa que Bruce Springsteen lançaria se estivesse dormindo, enquanto “Beautiful Drug” talvez seja uma das poucas que se salvam em meio à burocracia. Há as baladas, claro, como “Story Of Love”, que parece uma daquelas canções que alguém ouve numa festa de 60 anos, lembrando da vida. “Let It Rain”, “Lower The Flag” são outros pastiches de Springsteen fase “The Rising”, sem o mesmo brilho. A exceção do álbum fica em “Brothers In Arms”, a melhor canção, a única com algum sangue nas veias.

 

Se eu fosse lançar um álbum, por mais que fosse famoso como o Bon Jovi, jamais o batizaria como “2020”. Este é um ano tão ruim que dá azar mencioná-lo. Este é um disco chato, que nada irá acrescentar à obra da banda.

Ouça primeiro: “Brothers In Arms”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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