Batucada de pais e filhos durante a quarentena

 

 

 

Em 2018, quando ainda não existia Covid-19, Thiago Vila Nova, batuqueiro, advogado e pai do Gabriel, de 4 anos, teve a deia de fundar um grupo que tocasse para as crianças, unindo pais e filhos, e ocupasse espaços públicos no Rio de Janeiro. Estava criada a Fanfarrinha!

 

De lá pra cá já fizeram dois carnavais, tocaram no Honk Rio 2019 (um festival de fanfarras), na favela da Rocinha (em um Natal beneficente) e participaram da abertura do Carnaval não oficial do Rio este ano. Agora, em tempos de isolamento social, o grupo segue mantendo o ritmo, na música e no astral!

 

“Antes mesmo de virar pai tinha interesse em fazer algo voltado para o público infantil, e vi na música essa oportunidade já que, além de batuqueiro, estudava trompete”, diz Thiago. Junto a Chico Tâmega, atua na direção da banda – ele é responsável pela interlocução com os músicos e Chico é o maestro e arranjador.

 

“A Fanfarrinha surgiu da vontade de novos papais que tocavam em fanfarras de fazerem uma reunião de músicos amadores ou não, com repertório que contemplasse canções do universo infantil, do passado e do presente, assim como canções que não se encaixam no rótulo ‘para crianças’, mas guardam um clima de simplicidade e tranquilidade. Enfim, coisas que geram  bons sentimentos”, explica Chico, que também é funcionário público federal e pai da Elis, de 5 anos.

 

O grupo apresenta em seu repertório temas de desenhos animados, composições autorais e clássicos como O Trenzinho do Caipira, de Villa Lobos, e Maracangalha, de Dorival Caymmi. E as mamães também participam!

 

A iniciativa é um sucesso: as crianças adoram a união de música com brincadeira. Mas, inevitavelmente, a rotina do grupo foi modificada pela quarentena – os ensaios e as conversas foram mantidos utilizando a tecnologia. “Às quintas-feiras nos reunimos virtualmente para conversar fiado, tomar uma cerveja e para realizar pequenas apresentações individuais. Às terças-feiras os músicos de instrumentos harmônicos têm se encontrado virtualmente para aulas e exercícios ministrados pelo nosso maestro Chico. Esses encontros têm sido fundamentais neste período de isolamento social, e têm se mostrado um verdadeiro alívio frente aos desafios que a quarentena impõe. Só a interação entre as crianças é que não teve como ser substituída pelo elemento virtual, mas para isso usamos nossa criatividade, com muita música”, brinca Rogerio Peixoto, administrador, batuqueiro, um dos membros do grupo e pai do Dante, de 5 anos.

 

E ele está certo: com todos em casa, a música tem ajudado muito. “Tenho intensificado meus estudos de harmonia e de prática no trompete. Evito as telas e me dedico mais ao meu filho. Acho bacana fortalecer o vínculo, participar das tarefas domésticas, ampliar a leitura, cozinhar juntos. Ao mesmo tempo, agradeço, me solidarizo e torço pela saúde física e mental daqueles que não podem fazer o mesmo… Pensamos assim no grupo, e isso vale também para os profissionais que estão mantendo serviços indispensáveis em funcionamento: fica aqui nosso muito obrigado!”, diz Thiago. “Temos esperança e fé no futuro. Essa onda um dia vai passar e voltaremos aos ensaios e apresentações em locais abertos e com a presença da criançada… O sol há de brilhar mais uma vez. Não há mal que sempre dure e nem bem que nunca chegue e, até o bem chegar, iremos manter os estudos e os encontros virtuais”, contextualiza Rogério.

 

A foto que ilustra esse texto é do acervo da banda, e o Instagram do grupo é @bandafanfarrinha. Avante Fanfarrinha!, até a próxima!

Celso Chagas

Celso Chagas é jornalista, compositor, fundador e vocalista do bloco carioca Desliga da Justiça, onde encarna, ha dez anos, o Coringa. Cria de Madureira, subúrbio carioca, influenciado pelo rock e pela black music, foi desaguar na folia de rua. Fã de poesia concreta e literatura marginal, é autor do EP Coração Vermelho, disponível nas plataformas digitais.

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