Paula Toller: 60 anos, 15 músicas e três covers no Kid Abelha
Hoje, 23 de agosto de 2022 é o aniversário de Paula Toller. A moça – sim, porque ela segue inalterada pela ação do tempo – completa sessenta anos e chega a esta idade como uma das vozes mais conhecidas do pop rock nacional dos últimos 30, 40 anos. À frente do Kid Abelha, grupo no qual cantou até o fim da década de 2000 e em uma carreira solo, nem lá, nem cá, Paula conseguiu deixar sua marca. Muitos acham que ela é uma vocalista sofrível, outros acham que ela tem estilo e funciona bem em determinado tom e timbre. O fato é que La Toller foi mais relevante quando era a “vocalista do Kid Abelha” e a gente dá uma geral nas melhores faixas do grupo carioca ao longo de mais de três décadas de atividade e, para não sermos alvo de críticas, inserimos uma faixa que Paula registrou solo, em seu primeiro álbum, devidamente acomodada na seção de “covers-bônus” desta listinha. Confira, discorde, ame, odeie, isso é contigo.
– No Seu Lugar (1991) – faixa do álbum “Tudo É Permitido”, típica canção pop como o Kid Abelha sempre soube fazer. O arranjo é bacana, a letra funciona e, ainda que não exiba o vigor dos tempos com Leoni, é legal.
– No Meio da Rua (1987) – faixa de “Tomate”, o primeiro disco lançado pela banda após a saída de Leoni. Foi o melhor trabalho do grupo sem o ex-baixista e compositor-chefe. Canção pop com ótimo arranjo e dinâmica legal.
– Educação Sentimental (1985) – faixa-título do melhor álbum do Kid Abelha, verdadeira joia do pop nacional de todos os tempos. Ainda que seja melhor que sua irmã II, é uma bela canção new wave dançante.
– Por Que Não Eu? (1984) – canção do primeiro álbum, “Seu Espião”, com um arranjo meio estranho, talvez mal gravada, mas que funciona por conta da ótima letra, cortesia de Leoni, que a regravaria na década seguinte, de forma acústica, com participação de Herbert Vianna, seu parceiro na composição da faixa.
– Dizer Não É Dizer Sim (1989) – típica canção pop do Kid Abelha, muito bem gravada e inserida num álbum de pouco brilho, “Kid”, de 1989.
– Grand Hotel (1991) – uma das mais bem acabadas baladas do grupo, hit nas rádios e muito bem arranjada, com participação de Wagner Tiso. A destacar a lembrança da Revista Grand Hotel, um clássico dos anos 1950 e 1960 como sinônimo de um amor ideal.
– Me Deixa Falar (1987) – hit menor de “Tomate”, mas uma canção bem bacana, com letra de Paula e pedindo atenção em meio a um mundo machista. Belo arranjo.
– Uniformes (1985) – pérola perdida no ótimo “Educação Sentimental”, “Uniformes” fala de inadequação, estranheza e reflexões sobre o que fazer na hora e vez de ficar adulto. Ainda funciona.
– Alice (Não Me Escreva Aquela Carta de Amor) (1984) – uma pequena belezura dançante de “Seu Espião”, com um baixo característico e muito legal. A letra é ótima também, com um refrão em que Paula atinge o limite da fofura vocal.
– Garotos (1985) – outra belezura de “Educação Sentimental”, esta canção foi composta tendo em vista a fissura que Leoni tinha na época por bandas como Style Council e Matt Biano. A gravação tem participação de Roberto de Carvalho no piano.
– Educação Sentimental II (1985) – com início emulado de “London Calling”, do Clash, esta canção é uma das mais bem acabadas obras do Kid enquanto banda. Tem punch, letra, conceito, tudo funcionando muito bem. Baita canção.
– Amanhã é 23 (1987) – a própria música em que Paula fala de seu aniversário (23/8) como se fosse alguém que não a vê há muito tempo. É uma das mais belas baladas dos anos 1980 e tem um ótimo arranjo, com destaque para a bateria de Alfredo Dias Gomes.
– Amor Por Retribuição (1985) – outra pepita dourada de “Educação Sentimental”, um disco perfeito. Aqui a letra fala dos jogos infinitos entre um casal que já não funciona mais junto. A esperteza das situações contrasta com a tristeza de um casal que já não é mais casal.
– Seu Espião (1984) – faixa-título do primeiro disco, uma pequena obra-prima new wave nacional, com um teclado sensacional e letra que é prima-irmã da de “Every Breath You Take”, falando de um amante obsessivo e obcecado.
– Os Outros (1985) – o grande momento do Kid Abelha em todos os tempos. Aqui não tem pra ninguém, a construção da paisagem jovem da classe média-alta carioca dos anos 1980 é quase antropológica e as situações descritas são implacáveis. Um triunfo de gente grande.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.