BaianaSystem – O Futuro Não Demora

BaianaSystem

 

 

 

 

 

 

 

Gênero: Funk, Hip Hop, Eletrônico
Duração: 38 min
Faixas: 13
Produção: Daniel Ganjaman
Gravadora: Máquina de Louco

5 out of 5 stars (5 / 5)

 

As manifestações da cultura negra vão muito além da África. Desde quando habitantes daquele continente foram arrancados de suas terras para o trabalho escravo nas Américas e – em menor número – nas cortes europeias – a cultura produzida por estes indivíduos foi modificada para sempre. Sendo assim, talvez contra a intenção de senhores de escravos e opressores em geral, a cultura negra se espalhou e tornou-se maior, mais diversa e capaz de produzir manifestações tão caras a nós como, por exemplo, o samba, o jazz, o funk, a soul music e o hip-hop, só para ficarmos no terreno da música. Neste contexto o novo álbum do BaianaSystem tem sua razão de existência e sua imensa relevância. “O Futuro Não Demora” já nasce clássico e aceitando o legado de outros representantes da diáspora negra.

Não dá pra entender o álbum de outro jeito. Suas 13 faixas encontram espaço para glorificar a Bahia como uma espécie de hub cultural para o entendimento de ritmos caribenhos, africanos e locais, com um olhar de século 21, mas com o cuidado de não esquecer suas origens e feitos anteriores. Deste jeito, há sempre um mecanismo de retroalimentação e a coisa vai mudando mais e mais. “O Futuro Não Demora” é isso: um mutante constante de ritmos negros conhecidos ou não.

O disco pipoca com participações especiais: tem o franco-basco Manu Chao em “Sulamericano”, lembrando que as manifestações culturais negras não obedecem somente ao tom da pele, levando em conta um passado de opressão tristemente comum. Tem BNegão, colaborador habitual, em “Salve” (que mistura com propriedade a Zulu Nation com o Ilê Aye) e que também traz os mitológicos Antônio Carlos & Jocafi (presentes também em “Água”). Tem Curumin em “Sonar”, tem até o papa do dub, Adrian Sherwood, mixando a emblemática “Navio”, que refaz as paradas do Atlântico Negro. Tem a Orquestra Afrosinfônica adornando “Fogo” e “Água”, Vandal em “CertopeloCertoh”, o sensacional Mestre Lourimbau em “Melô do Centro da Terra” e o Samba de Lata de Tijuaçú, que entrega ao ouvinte um milagre em forma de rap/repente, na impressionante “Redoma”.

Em três faixas o BaianaSystem surge sozinho: “Saci”, que é sensacional e mistura teclados com melodia que poderia estar num desfile do carnaval baiano, “Sambaqui” que lembra os melhores momentos da Nação Zumbi e “Arapuca”, que tem duração pouco maior que a de uma vinheta, mas que consegue encapsular Caribe e eletrônica paraense em espaço reduzido.

Além da diversidade e do naipe de convidados luminosos, “O Futuro Não Demora” mostra um grupo que já é realidade e que está disposto a seguir adiante com a tradição de artistas negros brasileiros diaspóricos, tão cheia de gente genial. Estão em ótima companhia com BaianaSystem e vice-versa.

Ouça Primeiro: “Redoma”

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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