As belezas do EP de estreia de Thai Halfed

 

 

“Brilho dos Olhos” é o primeiro registro fonográfico de Thai Halfed. O EP chega às plataformas digitais com patrocínio do governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc.

 

“Reza pra passar no corpo / Água pra lavar cabeça / Lava o pensamento um pouco / Para despertar beleza”.

 

É a partir da beleza que o trabalho se apresenta. Gravado neste ano, sob imposições do confinamento ainda mais agudas, o EP reúne em canção a ação de quase dez colaboradores, entre produtores, instrumentistas e compositores, o projeto tem abordagem coletiva do trabalho da artista.

 

Ouça em todas as plataformas: https://tratore.ffm.to/brilhodosolhos

 

“Reza” (Thai, Julia Shimura e Liza Machado) traz uma estrutura que aproxima o registro da terra. Com conexão direta com a capa que apresenta o trabalho – ilustração da artista Helena Lessa em celebração a avó de Thai -, a música funciona como tradução da simplicidade sonora construída pela artista ao longos dos anos que vem maturando sua música nos palcos.

 

“Leão”, faixa que dá seqüência ao trabalho, uma composição solo de Thai, é mergulho na água guardada do peito. Registro mais pessoal e íntimo do EP, a canção tem um lindo arranjo de sopros de Joana Queiroz (que também gravou em “Reza” e “Coisas cósmicas”), importante nome na produção contemporânea brasileira, circulando em diferentes lugares sonoros, e costurando eles com enorme delicadeza. “Você me fez olhar / pros meus medos com a força de um leão”, canta Thai. “E ver que tudo tem o seu lugar”, completa como um verso-lembrança pra ser absorvido nesse momento em que tudo está fora de ordem.

 

Única canção com letra em inglês, “Purple flame” (Thai Halfed, Liza Machado, Ricardo Richaid) é a transição para o ar. Com atmosfera setentista, soa imersa em nuvens coloridas, flertando com a psicodelia que dominou a sonoridade da década.

 

E é a partir dela que se desemboca em “Coisas cósmicas”. Canção situada no espaço, ela também fecha o ciclo e traz de volta à Terra e à terra da abertura. “Procurei, mas não encontrei noite, raios, coisas cósmicas”, versos afiados sobre a busca de todos nós pelo céu, mas que tantas vezes nos lança novamente ao chão. Na música, Thai mostra que isso não é exatamente ruim. Afinal, “Dá pra ver o sol nascer / lá do fundo do quintal”. A beleza que temos no agora.

 

FICHA TÉCNICA

Produção musical: Pedrinhu Junqueira, Ricardo Richaid
Direção Artística: Liza Machado
Gravação: Pedrinhu Junqueira, Ricardo Richaid
Mixagem: Rafaela Prestes
Masterização: Igor Ferreira

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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