Aldir Blanc, 1946 – 2020

 

 

Uma notícia das mais tristes nesta manhã de segunda-feira, dia 04 de maio de 2020: Morreu Aldir Blanc, compositor de clássicos da música brasileira por conta de complicações decorrentes da covid-19. Ele tinha 73 anos e estava internado no CTI do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Uerj, e não resistiu a um quadro de infecção generalizada.

 

Aldir Blanc nasceu no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro e formou-se em Medicina no fim dos anos 1960, mas abandonou a carreira em favor do amor pela música, especialmente quando sua canção “Agnus Sei”, em parceria com o mineiro João Bosco, foi lançada. Foi com Bosco que ele compôs a maioria de suas letras, entre elas, clássicos como “O Bêbado e a Equilibrista”, “Mestre-Sala dos Mares”, “Caça À Raposa”, “Bala com Bala”, “De Frente Pro Crime” e várias outras.

 

Suas letras foram importante instância de manifestação contra a opressão dos regimes militares, especialmente quando exaltou vultos da nossa história, como o “Almirante Negro” João Cândido, marinheiro responsável pela articulação da Revolta da Chibata, em 1910, quando soldados negros se revoltaram contra os maus tratos. “De Frente Pro Crime” é outro exemplo da banalização da violência em meio ao cotidiano.

 

Foi com a gravação de “O Bêbado e a Equilibrista” por Elis Regina que a poesia de Bosco e Blanc se engajou nas manifestações pela volta da democracia, em fins dos anos 1970. A aparição da cantora no Fantástico, caracterizada como Charles Chaplin é inesquecível.

 

Outra letra memorável de Blanc é “Linha de Passe”, cuja sucessão de alegorias históricas e culinárias constrói o imaginário do Rio Antigo com uma rara genialidade. Em “Nação”, outro sucesso com Bosco, ele critica a precariedade da vida no Brasil e exalta Dorival Caymmi e Oxum, orixá feminino dos rios e da doçura humana. Em “Rancho da Goiabada”, ele critica a opressão sobre os mais pobres e sua exploração em contraste à riqueza dos desfiles de escolas de samba no Carnaval carioca.

 

É mais uma perda irreparável para a música brasileira.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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