A superlativa estreia de Wolf Van Halen

 

 

Mammoth WVM – Mammoth WVH

Gênero: Hard Rock

Duração: 58:14
Faixas: 14
Produção: Wolfgang Van Halen
Gravadora: EX1

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

Várias coisas precisam ser ditas sobre a impressionante estreia de Wolfgang Van Halen em disco. Este “Mammoth WVH” (as iniciais do sujeito) é um álbum de 14 canções em que tudo, absolutamente tudo o que se houve foi tocado, pensado e produzido pelo sujeito. Eu posso estar enganado, mas ainda não tenho notícia de um álbum de hard rock em que isso acontecesse, mas, bem, posso estar errado e a memória me trai. E mais: não há em “Mammoth” um singelo traço de sonoridade da banda do pai de Wolf, Eddie Van Halen, tristemente morto ano passado. O que se ouve ao longo dos quase 60 minutos de música neste trabalho de estreia é uma sucessão de porradas em diferentes intensidades, abraçando o hard rock, o heavy metal e as canções pop mais pesadas. Wolf tem um estilo guitarrístico que evoca alguma coisa dos anos 1990, que passa tangenciando o grunge, mas não chega a pegar emprestado. Tem alguma sonoridade que remete ao excelente disco de 1993 do Rush, “Counterparts”, e parece alguma coisa de Jerry Cantrell, do Alice In Chains, que, sabemos bem, é uma banda grunge, mas, de alguma forma, Wolf soa mais solar, mais diverso e interessante.

 

Há uma nota triste. Wolf tocava no Van Halen desde 2006, substituindo o baixista fundador Michael Antony. Ao longo deste tempo, ele manejou e se espalhou no 5150 Studios, do pai. Ali ele aprendeu a tocar vários instrumentos, operar a mesa de som e produzir. Foi criando um estilo próprio, uma marca sonora que poucos conheceram até ser lançado o álbum. Van Halen era um dos mais entusiasmados, chegando – segundo dizem – a levar trechos das músicas em seu celular para mostrar a quem estivesse interessado. Tristemente ele faleceu pouco tempo antes do álbum tomar forma, chegando a ver Wolf apenas começando os trabalhos. De qualquer maneira, certamente Eddie está extasiado em algum lugar lá em cima, uma vez que este disco é uma das mais bem pensadas coleções de canções de hard rock em muito, muito tempo. Aqui não tem espaço para brincadeira com os anos 1970, esperteza kitsch oitentista ou tristeza noventista, é uma verdadeira fornada de boas canções, que aliam peso, musicalidade e pegada pop inequívoca. É surpreendente até.

 

O primeiro single, “Distance”, uma lindeza de canção, parecia dar a entender que o álbum seria uma empreitada tristemente oportunista, que aproveitaria a passagem de Eddie para acenar com alguma espécie de continuação “de pai para filho”, mas, nada poderia ser mais equivocado que isso. Wolf é uma criatura totalmente de estúdio, além de ser ótimo guitarrista e baterista, segundo as pontas muito bem como cantor e nos outros instrumentos. Ele tem recursos impressionantes, daí a dificuldade em perceber os arranjos e sonoridades como se fossem executados por uma única pessoa. E a diversidade de nuances nas próprias canções é de tirar o fôlego. Tem o outro single, “Don’t Back Down”, que é uma clássica canção de hard rock, pesada, formatada e pronta para os estádios da vida, lembrando que Wolf se apresentará com banda ao vivo, abrindo a próxima turnê dos Guns’n’Roses.

 

Destaques absolutos: “Circles” e sua pegada psicodélica com um pé firme no quintal da casa do Soundgarden, ou melhor, da carreira solo de Chris Cornell. “Resolve”, canção em midtempo, com ótimo trabalho de violões e guitarras, que evolui num rockão belíssimo e aerodinâmico, novamente lembrando o que poderia ser uma cruza do Soundgarden com o Alice In Chains atual. “You’ll Be The One”, mais pesada e raivosa do que triste e contemplativa. “Think It Over”, certamente o momento mais pop do álbum, que chega a lembrar algo do Foo Fighters inicial, com mais peso e coesão. “Feel”, outra porrada mais raivosa e rápida, com destaque absoluto para o trabalho de bateria, e, finalmente, “Stone”, que é a penúltima faixa do disco, cujo registro parece feito sob a água, num efeito de abafamento sonoro muito interessante, que tempera o andamento lento e totalmente devotado aos bons sons noventistas.

 

“Mammoth WVH” é uma cacetada, um discaço. Deve ser ouvido sem qualquer vínculo com a tradição sonora da banda do pai de Wolf, mas tendo em mente que esta família tem nome, força e muito, muito talento acumulado. Este é um álbum corajoso e que aponta o surgimento de um grande nome na combalida cena do hard rock atual. Esbalde-se.

 

Ouça primeiro: “Circles”, “Resolve”, “Don’t Back Down”, “Stone”, “Feel”, “Think It Over”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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