Rolling Blackouts Coastal Fever – Sideways To New Italy

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 39 min.
Faixas: 10
Produção:  Tom Russo
Gravadora: Sub Pop

5 out of 5 stars (5 / 5)

 

 

Se me fosse pedido dizer qual a melhor banda de rock em atividade atualmente no planeta? Eu pensaria uns cinco segundos e cravaria, sem medo de errar: Rolling Blackouts Coastal Fever. Não sei por quanto tempo durará esta condição de protagonismo, mas os australianos chegaram a este segundo disco – fora um brilhante EP de estreia – com uma mistura muito bem azeitada de influências e demonstrações de personalidade. Há concisão no álbum, brilhantismo na composição das faixas, ótima produção, guitarras muito bem entrosadas e uma narrativa construída com bom senso, algo que este “Sideways To Little Italy” mostra com distinção. Além disso tudo, o RBCF exibe aquela característica indizível que as bandas australianas têm, uma coisa meio surf, meio skate, meio saudade dos anos 1980. Tá tudo aqui, pessoal.

 

O quinteto tem aquela formação clássica do rock perfeito: baixo, bateria, duas guitarras e um vocalista. Se bem entrosada, uma banda pode fazer praticamente tudo o que desejar. No caso do Rolling Blackouts CF, o líder Tom Russo, guitarrista e vocalista, demonstra neste novo disco o que se esperava dele: um compositor capaz de evocar narrativas interessantes e que vão além do banal. Isso se traduz na noção de que a banda conheceu a fama a partir do trabalho anterior, o ótimo “Hope Downs”, lançado em 2018, o que fez com que saíssem de seu circuito de shows habitual e conhecessem Europa e Estados Unidos. Com isso veio a badalação e a subida de prateleira no cenário do rock que importa. Meio assustados com isso, os sujeitos voltaram para casa e começaram a rascunhar canções que dessem conta da felicidade que reside nas pequenas e banais coisas que existem no lugar onde você mora. A “Little Italy” do título é uma comunidade de imigrantes da Velha Bota, que existe perto da Nova Gales do Sul, local de origem da banda. Faz sentido, oras. Quem nunca sentiu vontade de voltar para casa depois de um tempo fora que atire a primeira pedra.

 

Além deste conceito discreto que reveste o disco, o Rolling Coastal poliu ainda mais as composições e soa como um representante mais que digno da escola REM/Go-Betweens de rock perfeito, ou seja, capaz de pensar em arranjos com entrelaces e megahairs de guitarras que soam como remanescentes dos Byrds e dessas duas bandas. Tudo é belo, ensolarado e com uma pinta de tristeza existencial, que ninguém é de ferro. É difícil apontar uma composição que se destaque entre as dez faixas do álbum, uma vez que todas são muito legais. Alguns momentos, entretanto, conseguem chegar na escala celestial de belezuras enguitarradas, despertando um sorriso no velho crítico. “The Only One”, por exemplo, tem linha de baixo curvilínea, guitarras que saem da escala da lindeza ensolarada e pedem pra reservar lugar no coração, parecendo muito com os melhores momentos do Go-Betweens.

 

Os singles – “Falling Thunder”, “She’s There” e “Cars In Space” – foram hábeis na missão de preparar os ouvintes para o que estava por vir. Cada um à sua maneira, eles trazem detalhes de gravação, timbres e dinâmica que comprovam uma banda pensante e sensível. “Not Tonight” é outro exemplo dessa capacidade de fluidez, com os arranjos se amoldando aos espaços de preenchimento possível por parte das guitarras. “Sunglasses At The Wedding”, com violões acústicos e guitarras, exibe aquela polidez de ourives experiente, aliando placidez e ótimos vocais. “The Cool Change” tem batida marcial e peso pop, “Beautiful Steven” é lírica e cheia de boas construções em meio a uma melodia criativa e “The Second Of The First” tem ritmo mais rápido e devedor das clássicas canções australianas oitentistas, de Hoodoo Gurus a Australian Crawl e Spy vs. Spy.

 

Rolling Blackouts Coastal Fever, se não é a melhor banda de rock em atividade no planeta, é uma das mais autênticas e destemidas pretendentes ao título. Dê ouvidos, abra espaço no lado esquerdo do peito, deixe as canções se aconchegarem. Você não tem escolha.

 

Ouça primeiro – O disco todo.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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