A segunda – e sensacional – live do Rei
Se a primeira aparição de Roberto Carlos no mundo das lives foi, digamos, peculiar, a segunda foi inegavelmente sensacional. Digo “peculiar” porque o esforço do Rei em surgir nas telinhas por conta da pandemia, no dia de seu aniversário, gerou uma apresentação um tanto vacilante, que ganhou a simpatia dos fãs muito mais pela disposição e pelo afeto – características intrínsecas de RC – do que pela performance pura e simples. Ainda que ele tenha oferecido alguns bons momentos. Qualquer dúvida – se é que havia – sobre Roberto Carlos ser relevante ainda hoje foi dissipada pela sensacional aparição dele ontem, dia 10 de maio, em pleno Dia das Mães.
Com a banda encorpada por bateria, baixo e violões/guitarras, além de Tutuca e Eduardo Lages, nos teclados e pianos, Roberto recorreu a pérolas de seu repertório sem qualquer cerimônia e já entrou de sola com uma versão emocionante de “Lady Laura”, talvez a faixa mais apropriada para o dia. E foi adiante, com “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo”, num andamento mais lento, mas que demonstrava a ótima forma da banda que o acompanhava. Aliás, é justo dizer que a atuação da banda fez a diferença nesta live e deu ao Rei um índice maior de sangue nas veias do que estamos acostumados a ver nas aparições mais recentes dele. O arranjo protocolar de “Além do Horizonte”, meio samba, meio jazz, evoluiu ao longo da própria canção, chegando a uma cadência muito mais marcada do que a própria gravação original e as apresentações ao vivo recentes.
Claro que, em meio a um repertório tão extenso, algumas escolhas soam meio fora de lugar. Roberto incluiu, por exemplo, “Mulher Pequena”, uma de suas odes ao sexo oposto, na onda do “RC popular e erótico”. Também colocou seu “rap” dos anos 2000, “Seres Humanos” e duas canções gospel, “Quando Eu Quero Falar Com Deus” e “Luz Infinita”. Mas, na via de mão dupla, houve espaço para dois ótimos covers, que mostraram um pouco do Roberto crooner, uma faceta pouco explorada por ele: “Unforgetable” e a soberba releitura de “Senza Fine”, na qual dava pra ver seu empenho e dedicação. Além destas, a ótima sacada de “Outra Vez”, um clássico setentista absoluto e standards de sua melhor fase, “Detalhes” e “As Curvas da Estrada de Santos”, com espaço para a ótima “Se Você Pensa” e uma interpretação emocionante de “Ternura”, num dueto com Wanderlea.
Se Roberto já vai para seus 80 anos de idade – ele completou 79 há poucas semanas – sua figura segue imbatível no inconsciente coletivo de umas quatro gerações de brasileiros. Sua posição é inalcançável e inespugnavel. Essa live foi uma reafirmação de seu poder de encantamento e relevância para a música feita no Brasil, quer queiram ou não.
Setlist
– Lady Laura
– Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo
– Além do Horizonte
– As Curvas da Estrada de Santos
– Detalhes
– Outra Vez
– Mulher Pequena
– Ternura (com Wanderlea)
– Unforgetable
– Como É Grande O Meu Amor Por Você
– Quando Eu Quero Falar Com Deus
– O Calhambeque
– Senza Fine
– Se Você Pensa
– Seres Humanos
– Esse Cara Sou Eu
– Luz Divina
PS: Roberto ainda fez um belíssimo discurso sobre a importância de estar em casa durante a pandemia de covid-19.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
Adoro seus posts, sempre arrumo um tempinho para ler
eles. Parabéns !! abraços de toda a equipe do
http://www.fatosefatos.com
Querido, mais um texto impecavel e justo.
Apenas uma correcao: a musica final chama “Luz Divina”
Abraco