“A Guerra do Amanhã” é cinemão bem feito

 

 

O que você espera de um filme como “A Guerra do Amanhã”? Certamente não é um conjunto de atuações marcantes ou tramas complicadas. O que a gente quer ver numa produção dessas – que custou 200 milhões de dólares ao serviço de streaming Amazon Prime – é uma história convincente, um roteiro bacana e muitas cenas de ação. Se tiver um elenco legal, a coisa melhora substancialmente e “A Guerra…” tem tudo isso. Sintam o drama: em 2051 a humanidade está à beira da extinção por conta de uma invasão de criaturas não-humanas que se alimentam de carne e estão dizimando o planeta. Os últimos humanos, diante de todo tipo de escassez, conseguem voltar 30 anos no passado para recrutar contingentes de pessoas dispostas a entrar na luta, mesmo sabendo que as chances de êxito são poucas. Daí temos a história de Dan Forester (Chris Pratt), um professor de biologia, ex-militar, que vive com a esposa, Emmy (Betty Gilpin), e sua filha, Muri (Ryan Kiera Armstrong). A família está comemorando o Natal de 2022, quando, em meio à final da Copa do Mundo do Catar, entre … Brasil e França, uma tropa de soldados do futuro irrompe no gramado e dá a notícia. E tudo muda.

 

 

Dan, que vive uma relação complicada com o pai, (J.K. Simmons), que abandonou ele e sua mãe décadas antes, não quer viver uma viva sem propósito e decide se alistar para garantir o futuro da família, uma vez que, caso o voluntário seja morto na guerra, há a garantia de uma indenização de um milhão de dólares no presente. Quando ele chega a 2051 é que tem ideia da devastação total pela qual o planeta atravessa. As batalhas com as crituras logo têm lugar e elas, chamadas de “Garras Brancas”, se mostram fisicamente quase indestrutíveis. E neste contexto, Dan encontrará a comandante de sua tropa, a Coronel Forester que – alerta de spoiler – é sua filha, Muri, numa versão adulta, vivida pela sensacional Yvonne Strahovsky, a Serena Joy de “The Handmaid’s Tale”. É ela que garante a cota dramática mínima e necessária ao filme para que ele exista numa realidade além de pipocões sem cérebro comandados por Vin Diesel e similares. A presença de Yvonne ilumina a tela, mesmo como uma militar-cientista bem clichezuda.

 

Com uma boa reviravolta na metade final e todas as explicações amarradas de forma relativamente convincente, “A Guerra do Amanhã” é legal, mas não consegue evitar um leque de referências que podem parecer mera cópia. Há traços de filmes como “Alien”, “Jurassic Park”, “Independence Day”, “Tropas Estelares” e “Guerra Mundial Z”, sobretudo nas sequências aéreas, que mostram o deslocamento dos Garras Brancas em meio aos terrenos. E também há uma interessante amostra de bons efeitos especiais ao longo do filme, dando sustentação necessária para a trama se desenvolver bem. Além do elenco já mencionado, há a presença de dois atores que funcionam como boas adições ao time de soldados. Sam Richardson, que vive Charlie, um geólogo que perdeu a esposa, também recrutada para o futuro e EDwin Hoge, que vive Dorian, um soldado que já está em sua terceira jornada para matar os inimigos.

 

Mesmo com as reviravoltas de deslocamento no tempo, “A Guerra do Amanhã” não deixa ponta solta. A direção de Chris McKay, responsável pelo ótimo “Lego: Batman”, é segura e funciona lindamente neste tipo de produção.

 

“A Guerra do Amanhã” é uma ótima pedida pra quem gosta de ficção científica com futuro ameaçado por monstrengos que, na verdade, simbolizam o perigo dos maus tratos ao planeta e a nós mesmos como reflexos das nossas atitudes no presente. Veja pela diversão porque ele funciona bem.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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