A força de Giovanna Moraes

 

 

 

Giovanna Moraes – III

Gênero: alternativo

Duração: 20 min.
Faixas: 6
Produção: Thommy Tannus
Gravadora: Independente

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

A paulistana Giovanna Moraes é uma pequena e brilhante joia dessa nova/novíssima fornada de cantoras e compositoras brasileiras. Ela tem aquela voz que é forte, mas aguda, que segue uma tradição que remonta a gente tão distinta quanto Kate Bush e Tetê Espíndola e, além disso, compõe e toca piano/teclado, numa estética que tem certo parentesco com Fiona Apple. O que é mais bacana nos álbuns que Giovanna lançou até agora é uma dualidade entre noite e sol, algo que suas músicas deixam transparecer de algum jeito esquisito. Este “III” é seu novo lançamento, um EP composto, pensado, sentido e gravado nestes dias duríssimos de pandemia, nos quais estamos experimentando medos, tristezas e novíssimas camadas de solidão. Tudo está difícil.

 

“III” tem seis faixas autorais, todas lançadas em formato de lyric video no Youtube e disponíveis nos serviços de streaming. Todas são diferentes, mas facilmente identificáveis pelas marcas pessoais que Giovanna já tem como artista, ou seja, esta voz ímpar, a elegância dos arranjos que enfatizam os teclados, mas não abrem mão da banda e as letras, que são quase páginas nunca escritas num diário de menina que já é mulher há tempos. E isso é tão bacana, que as experiências mil, seja de amores desfeitos, seja de músicas que a gente ouve e curte, são transpostas da mesma forma para as canções, tudo parte do mesmo contexto. Não por acaso, Giovanna aparece na capa “se dando um abraço”, como se fosse um carinho pessoal, mas um gesto que nos diz para nos gostarmos mais um pouco do que temos feito. É uma imagem bela e muito significante.

 

Das faixas, “Boogarins’ Are You Crazy” salta aos ouvidos como um dos exemplares mais solares e coloridos que a moça já gravou. Os agudos são tão graciosos que parecem vindos de um plano mais alto. E o arranjo tem ótimo desempenho da banda – Renato Lellis (bateria), Chris du Voisin (baixo) e Lucas Trentin (guitarra) – que oscila entre o improviso jazz, especialmente na bateria, e o psicodelismo mais atual. “Betray”, a faixa de encerramento, cantada em inglês, já tem outra pegada, totalmente eletrônica, mas marcada pela mesma dualidade entre força e fragilidade. “Baile de Máscaras” já tem mais uma aura de pop song, mas com detalhes complexos bem interessantes, como o verso: “Tá tudo bem, só não tô legal/Depois do que limpei pareceu que a vida/Não me trataria mal”, que mostram que a coisa é bem séria na mesa de atividades de Giovanna.

 

“III” é uma pequena amostra do que ela é capaz. Caso fique – e deve ficar – um gosto de quero mais, vá direto para “Rockin’ Gringa” e “Direto da Gringa”, seus outros trabalhos e você verá uma artista grande em formação.

 

Ouça primeiro: “Baile de Máscaras” e “Boogarins Are You Crazy?”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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