Young Guv – GUV I

Gênero: Pop, rock
Faixas: 8
Duração: 22 min
Produção: Ben Cook
Gravadora: Run For Cover

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Você sente saudades do powerpop do início dos anos 1990? Eu sinto e muita. Um tempo em que tínhamos Matthew Sweet, Teenage Fanclulb, Sloan, Fountains Of Wayne, bandas e artistas que se esmeravam em recuperar um estilo setentista de melodias douradas, grudentas e ensolaradas, mas turbinadas por timbres de guitarra mais encrespados, invocados, que temperavam a doçura com certo peso subliminar/subentendido. Os escoceses do TFC eram mestres nesta mistura e talvez sejam o nome mais lembrado deste setor. Apesar de estarem na ativa, o ritmo de lançamento de discos dos caras é lento – sempre foi – e a saudade aperta. Quando isso acontecer, procure dar uma variada – no mesmo tema – com este pequeno diamante chamado “GUV I”, confeccionado por um sujeito de Toronto, no Canadá, que atende pelo nome de Ben Cook.

Está tudo aqui, camaradas. As linhas melódicas feitas em laboratório para grudar nas nossas mentes. O clima de piquenique no verão, sob o céu azul, num parque verde, ao lado da pessoa amada. O passeio, também ao lado da pessoa amada, em alguma alameda verdejante do imaginário de quem cresceu nos anos 1970/80. O amor escrito em cartas nunca enviadas. Sim, essas figuras estão todas contidas nos 22 minutos de duração do álbum, em cada uma das oito faixas. É tudo bem feito, gravado por Cook, que tocou todos os instrumentos e entendeu exatamente o espírito da coisa. É música simples, porém muito elaborada em sua missão de despertar a positividade não-tóxica dentro de nós. É vontade de abraçar o amigo, pagar uma cerveja, falar da vida sem sombra de erros como bolsonaro, trump ou outro estraga-prazer.

 

Apenas três das oito faixas vão além dos três minutos de duração. “Luv Always”, a terceira do disco, tem uma inequívoca levada byrdeana logo na abertura, com timbres que poderiam ser de um neto de Roger McGuinn, manipulando sua célebre Rickenbaker laranja numa garagem qualquer. Os vocais são doces, perfeitos, multifacetados. A outra, “Didn’t Even Cry”, é mais lenta, herdeira do Big Star, com levada mais doce, letra sobre o amor não correspondido, este mal incurável de qualquer tempo. “Every Flower I See” já entraga tudo em seu título. Nem precisava ter uma condução tão teenagefanclubiana como tem.

 

Mas é nas faixas mais curtinhas que “GUV I” brilha forte. “Patterns Prevail”, a que abre o disco, parece uma nova canção do Teenage Fanclub, com ritmo e arranjo característicos e tão queridos. “Roll With Me”, em seguida, tem um clima mais de rock alternativo noventista, uma lindeza de arranjo vocal e levada de guitarras, baixo e bateria. É em “High On My Mind” que o bicho pega pra valer: melodia perfeita, vocais de apoio que caem do céu, lindeza de letra sobre o amor impossível, de uma musa que está diante da gente o tempo todo, porém, sentimentalmente, está na maior das distâncias. Quem nunca viveu isso? As outras duas faixas, “Exceptionally Ordinary” e “A Boring Story” conservam o clima nas alturas, especialmente ao última, que inclui arranjo com gaita e melodia lacrimejante.

 

Este é um daqueles discos fadados a passarem rápido. Depende de nós evitar isso. Ele é pequeno, colorido, amigável e feito sob medida para corações que têm suas cicatrizes escondidas sob a carapaça do cotidiano e do tempo corrido. Não deixemos ele sumir por aí, negligenciado pela má vontade dos algoritmos.

 

Ouça primeiro: “High On My Mind” e “Didn’t Even Cry”, empatadas.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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