13 músicas – Daft Punk
Se você esteve ouvindo música nestes últimos vinte e tantos anos, certamente sabe da importância do Daft Punk. A dupla francesa, que encerrou suas atividades na última segunda-feira, dia 22, redefiniu os caminhos da música eletrônica dos anos 1990, partindo de uma visão noturna e dedicada aos clubes e boates mais engajados para desenvolver um som sintético cada vez mais amplo, mais interessante e capaz de conquistar grandes audiências. Guy Manuel de Homem Cristo e Thomas Bengalter, os próprios, mostraram que é possível fazer música eletrônica com noção de onde e veio e sabendo para onde vai, sem perder a mão.
Cada um de seus quatro álbuns são profundamente diferentes entre si, documentando essa evolução sonora. “Homework” (1997), “Discovery” (2001), “Human After All” (2006) e “Random Acess Memory” (2013), são obras que flutuam no tempo, em caminhos próprios, documentando as percepções e avanços da dupla. Além deles, vários remixes feitos e recebidos e a trilha sonora de “Tron: Legacy”, sem falar no filme de animação que o duo lançou em 2001, “Interestella”, do qual várias músicas de “Discovery” servem de score.
Fizemos a nossa tradicional lista de 13 melhores canções do Daft Punk, que deixamos abaixo pra você cair na dança e dar o valor necessário.
– Something About Us (2001) – é o “tema de amor” de “Discovery/Interestella”, mostrando uma rara balada em midtempo, perdida no meio das faixas dançantes e robotizadas do álbum. Belezinha.
– Face To Face (2001) – outra canção de “Discovery”, dotada de grande fluência dançante e cheia de andamentos funk atemporais, que se tornariam uma marca registrada do Daft Punk a partir daí.
– Instant Crush (com Julian Casablancas) (2013) – colaboração com o vocalista dos Strokes, presente em “Random Access Memory”. O arranjo e o clima é totalmente tributário ao pop progressivo que bandas como Alan Parsons Project faziam no início dos anos 1980. Surpreendente.
– Around The World (1997) – clássico racha-assoalho do primeiro álbum, “Homework”, com batidas subaquáticas que vão emergindo e ganhando nitidez e conduzem o ouvinte a um ritmo frenético e inesgotável, cheio de teclados e baixo funk. Maravilha.
– Alive (1997) – outra canção monstruosa do primeiro álbum, quase no final do tracklist, com uma confluência de batidas em alta velocidade, temperada pelo talento da dupla em mesclar eletrônica convencional com pitadas funk e teclados de videogame do passado. Porrada.
– Lose Yourself To Dance (com Pharrell e Nile Rodgers) (2013) – segundo hit de “Random Access Memory”, com a colaboração de Pharrell Williams e da guitarra chic de Nile Rodgers. Não tem o brilhantismo e a fluência de sua irmã mais alegre e brilhante, “Get Lucky”, mas faz bonito.
– Revolution 909 (1997) – outra linha de baixo, bateria, samples e teclados, todos unidos com a missão de não deixar nada parado. Os ruídos da cidade – sirenes, carros, buzinas – vão cedendo espaço para o pancadão dominar as ações. E não há como evitar mais nada.
– Robot Rock (2005) – isso é não menos que sensacional. Samples de guitarra e bateria, uma ambiência de rock pesadinho e a repetição à exaustão de um fraseado de teclado oitentista. Se tocasse num fliperama dos anos 1980, não seria notada como faixa do futuro. A melhor canção de “Human After All”, de 2005.
– Harder, Better, Stronger, Faster (2001) – outra ótima canção de “Discovery”, muito mais rítmica e dançantes do que as outras. Ao longo da faixa, a dupla vai experimentando novas batidas e levadas, até chegar, mais pro final, a uma versão do batidão miami bass/funk carioca, que dá o twist necessário para esta lindeza.
– One More Time (2001) – como evitar esta canção? A construção da linha melódica, o refrão infeccioso, a ambiência que evoca os momentos mais “disco” da Electric Light Orchestra, está tudo presente aqui.
– Get Lucky (com Nile Rodgers e Pharrell) (2013) – uma das faixas mais bacanas da disco music, feita com décadas de atraso. Digo isso porque a composição da dupla e Nile Rodgers escapa da homenagem pura e simples e, de tão boa, faz frente a várias produções daquele tempo. Um clássico atemporal.
– Touch (2013) (com Paul Williams) – ainda que “Get Lucky” seja a grande canção de “Random Access Memory”, esta colaboração da dupla com o ótimo compositor e cantor Paul Williams – responsável, entre outros clássicos do pop, por “We’ve Only Just Begun” e “Rainy Days And Mondays”, atinge níveis impressionantes, mostrando que a dupla tinha condições de visitar psicodelia, progressivo e improvisações numa canção só, sem perder o atrativo pelo pop perfeito.
– Da Funk (1997) – a síntese do Daft Punk moleque, o Daft Punk maroto. Linha de baixo e bateria irresistível, samples na medida certa e uma canção que parece ecoar da vizinhança, onde alguém está dando uma festança histórica. Perfeita.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
Faltou derezzed e television rules the nation …