Versões dub dão nova cara a canções de Jack Johnson

 

 

 

 

Jack Johnson – In Between Dub
41′, 11 faixas
(Universal)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Vejam como o tempo voa: já se vão 22 anos desde que Jack Johnson, ex-surfista profissional, lançou seu primeiro álbum, “Brushfire Fairytales”. Na verdade, Johnson já iniciara sua carreira alguns anos antes, colaborando com artistas como G.Love And Special Sauce e sendo gravado por Ben Harper. “Brushfire…” foi o início de uma nova e definitiva fase, com o sujeito saindo dos bastidores e assumindo vocais e violões em canções semiacústicas simpáticas e que logo caíram no gosto de uma multidão de ouvintes não muito exigentes e sedentos por este tipo de música. A postura gente boa de Jack e o próprio nível de seu trabalho fizeram dele um discreto superstar da música internacional em pouco tempo, mas, verdade seja dita, sua música permaneceu a mesma desde o início e logo ficou evidente que Jack não parecia muito interessado em acrescentar algo à sua fórmula vencedora e simples. Tal fato mudou em 2022, quando ele recrutou Blake Mills, do Alabama Shakes, para produzir seu bom álbum “Meet The Moonlight”. Deste contato, Johson iniciou um discreto movimento visando modificar algo, acrescentar novas camadas, enfim, dar uma sacudida em sua música, algo que o próprio álbum refletiu “Inbetween Dub”, lançado agora, é a continuação deste movimento visando mudança.

 

O resultado é surpreendente, pois cumpre uma função, digamos, estética em relação à obra de JJ, a de acrescentar, justamente, esta nova camada de invenção ou de mudança a que nos referimos acima e da qual suas canções realmente sentem falta desde sempre. Ele também teve manha suficiente para procurar os grandes nomes do dub, a começar por seu inventor, Lee “Scratch” Perry, e explicou o motivo: “Crescendo no Havaí com a música reggae sempre no rádio, Lee ‘Scratch’ Perry era uma lenda viva. Quando descobri que ele queria remixar algumas das minhas canções, fiquei maravilhado. Os remixes evoluíram e ele acabou colocando sua voz nas minhas faixas. Era como se ele tivesse feito um truque de mágica com a música. Serei eternamente grato pelo tempo, amor e energia que Lee ‘Scratch’ Perry colocou neste projeto”. Perry começou a trabalhar nas faixas de Jack em 2020 e assim seguiu pelos primeiros meses da pandemia, até seu falecimento em agosto do ano seguinte. Sendo assim, a nova versão de “Traffic In The Sky” (cujo original data de 2003) foi a faixa de deu início ao projeto, sendo lançada em março deste ano, com direito a um belo clipe de animação.

 

Além de Perry, estão presentes em “Inbetween Dub” pesos-pesados do estilo, como o ótimo Mad Professor que já enfumaçou obras de gente tão distinta quanto Massive Attack, Pato Banton e Chico Science; Dennis Bovel, que produziu inúmeros artistas, além de ser colaborador fixo do grande poeta reggae Linton Kwesi Johnson; Nightmares On Wax (nome artístico do DJ e produtor George Evelyn); o superstar jamaicano Scientist, nascido Hopeton Overton Brown, e os americanos do Subatomic Sound System, que são especializados em fazer dub ao vivo. A escolha desses colaboradores aponta um desejo de, mesmo dentro dos domínios do dub, fazer algo que soe distinto de faixa para faixa. A escolha do repertório também reflete essa ideia, passando por canções que estão em quase todos os seus discos, evitando a presença do hit mais conhecido de Johnson, a canção “Upside Down”, que ele compôs para a trilha sonora do desenho Curious George, em 2006.

 

O balanço de “Inbetween Dub” é bem positivo. As faixas em que Lee Perry trabalhou se destacam, “Traffic In The Sky” e, ainda melhor, “Times Like These”. Bovell lança novo olhar sobre “Calm Down”, uma das faixas de “Meet The Moonlight” inseridas aqui e Nightmare On Wax dá uma cara diferente para “Better Together”, originalmente do álbum “Inbetween Dreams”, que forneceu inspiração para o título deste novo trabalho. É aquela coisa: Jack Johson sempre será o cara gente boa, calmo, pacífico e com o violão à mão, pronto para sacar uma canção simpática e inofensiva. Aqui, ele mostra que não é exatamente assim que a banda toca e que pode oferecer um quociente razoável de novidade. Que continue assim.

 

Ouça primeiro: “Times Like These”, “Calm Down”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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