Vanessa da Mata – Vivo Rio, 29/06/19

Vanessa da Mata – Vivo Rio, 29/06/19, 21:30h.

Foto: J.P Sofranz

 

Noite quente de inverno carioca, algo típico na cidade. O Vivo Rio vai enchendo aos poucos para a apresentação de Vanessa da Mata, que vem divulgando seu ótimo novo disco, “Quando Deixamos Nossos Beijos Na Esquina”. Novamente Vanessa mostra o quanto tem talento, especialmente como compositora, algo que fica em segundo plano diante de suas interpretações. Sua figura quase eclipsa esta virtude, mas basta uma audição mais dedicada a seus discos para ficar evidente o seu ótimo jeito para misturar referências da música brasileira mais clássica – samba, por exemplo – com ritmos estrangeiros – especialmente o reggae – e dar a tudo isso um acento pop quase irresistível. Suas canções têm ganchos e refrãos admiráveis, sejam elas mais lentas ou mais animadas. E isso fica evidente quando ela sobe no palco.

 

O setlist cobre a totalidade das faixas do novo disco e dá pra ver como o público já adotou o trabalho com carinho. Tem até ação de coreografia na hora do novo hit “Só Você e Eu”, que é uma baita canção grudenta e bela. A pluralidade do álbum é acompanhada por gosto pelo público. O show abre com a ótima “Tenha Dó de Mim”, com seu instrumental afro-baiano-caribenho é saudada com dança e palmas pelos presentes, que já entram no clima de imediato. Ao longo da noite veremos a faixa-título; “Ajoelha e Reza”, que é quase um ska, “Nossa Geração”, que vem antecedida de uma fala mencionando a razão de sua existência – o estudo de que, num futuro próximo, as pessoas não terão mais interação física ou farão sexo -, recebida com um misto de riso e espanto pela plateia, que talvez não tenha prestado atenção à letra “nossa geração mata o diferente, nossa geração só polui o mundo…”.

 

A belíssima “Demais Pra Mim” espanta pela simplicidade do arranjo e Vanessa novamente consegue a identificação total com o público em “Vá Com Deus”, na qual fala “fazer o que der na telha, autossuficiência, que delícia”, acompanhada pelo público feminino – maioria no local. El também comove quando fala sobre “O Mundo Para Felipe”, escrita para seu filho mais velho – presente na plateia – dizendo que, “certamente cairá num chororô”.

 

Além do novo disco, o show traz os sucessos maiores da cantora. Temos então “Boa Sorte”, “Vermelho”, “Não Me Deixe Só”, a linda “Ainda Bem” e a indefectível “Ai, Ai, Ai, Ai, Ai”, que vem no fim do bis, com o público descabelado cantando e dançando junto. Aliás, é pena que seu melhor disco, “Essa Boneca Tem Manual” só compareça com duas canções em todo o setlist, mas esta impressão é só uma nota rodapé na belezura que é o espetáculo, que ainda tem boas versões para “Leãozinho” (Caetano Veloso), “Comportamento Geral” (Gonzaguinha) e uma inesperada interpretação de “Bam Bam”, clássico do reggae feminino, cantando originalmente por Sister Nancy.

 

“Quando Deixamos Nossos Beijos Na Esquina”, o show, é tão bacana quando o disco. Tem elementos visuais intensos – toda a excelente banda de vermelho, que também é a cor que domina o palco – Vanessa dançando esvoaçante de um lado para o outro e tudo mais para confirmar uma verdade: ela é uma das grandes cantoras brasileiras da atualidade e também uma das maiores compositoras surgidas no país neste início de século. Uma lindeza só.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Vanessa da Mata – Vivo Rio, 29/06/19

  • 1 de julho de 2019 em 10:59
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    QUE ESPETÁCULO DE MULHER E SHOW!!! PARABÉNS, VANESSA!!! QUANDO VOLTARÁ AO VIVO RIO????ESTAREI LÁ!!!❤❤❤❤

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