Um papo com o Professor Túlio

 

 

Tulio Mota é professor de Física em Niterói, cidade na qual moro há 14 anos .  Ele “está” vereador, eleito pelo PSOL nas últimas eleições. Teve meu voto porque, além de conhecê-lo fora do mandato, ele é um cara extremamente preocupado com a questão da educação pública e de qualidade.  Além disso tudo, Túlio é jovem, tem fluência com este eleitorado, especialmente por ser um cara das salas de aula, que compreende a dinâmica que as pessoas têm quando estão começando a formular seus primeiros conceitos e desenvolvendo suas vivências.

 

Como a Célula Pop é um site que tem posicionamento político e que acredita no voto como um meio legítimo e eficaz para termos pessoas preocupadas com questões decisivas da sociedade, fiz o convite ao Túlio para bater um papo conosco. O cara foi o segundo vereador mais votado de Niterói e esteve às voltas com todo o corre-corre de tomar posse na Câmara de Vereadores em meio à pandemia. Logo, ele demorou para responder às perguntas, mas, claro, motivo melhor não poderia existir: ele já apresentou seis projetos de lei, a maioria deles sobre melhorias para professores e condições de ensino.

 

Abaixo estão as perguntas e as respostas do homem.

 

 

– Você foi o segundo vereador mais votado em Niterói numa campanha feita em meio a uma pandemia. Conta pra gente como isso aconteceu.

A nossa vitória foi uma resposta da ciência, da educação, dos professores, da juventude e de todos que se mobilizaram para dar um basta ao negacionismo e ao bolsonarismo na cidade. Acredito que a pandemia aprofundou nesses setores a vontade de ir às urnas para dizer um não rotundo a esse projeto liberal-fascista.

 

 

– Qual foi a sua primeira resolução após a posse?

Assumi o cargo de vereador nesse contexto de pandemia, ao mesmo tempo em que apresento projetos de combate à COVID-19, tenho o desafio de lutar pela educação, pela ciência e pela redução das desigualdades sem deixar de lutar contra o negacionismo e o fascismo. Nessa perspectiva, o primeiro projeto de Lei apresentado foi no sentido de valorizar os trabalhadores da educação, para que os professores não esperem o fim do estágio probatório para receber adicional por qualificação.

 

 

– Você é professor e vive nas salas de aula, sabe o poder transformador da educação na vida das pessoas. Quais teus projetos pra área?

Iniciei minha militância através de Leonel Brizola, o político que mais construiu escolas no mundo e trabalho dando aulas de física há 18 anos e não pretendo parar agora. Meu maior orgulho é ter ajudado mais de 1000 estudantes a entrar na universidade pública. Como não poderia ser diferente, a educação tem um peso extremamente forte no mandato. Já apresentei 6 projetos de Lei para a área da educação e temos muitos outros para apresentar, entre eles, projetos para garantir a educação integral em tempo integral, valorizar e ampliar os pré-vestibulares populares na cidade.

 

 

– Nas horas vagas, que estilo de música, gênero de filme, enfim, o que você gosta de fazer quando não está na militância?

É uma pergunta difícil de responder porque o tempo todo estamos consumindo cultura e dificilmente não há alguma ideologia sendo passada através dos filmes, séries, músicas e por aí vai. Nas horas vagas gosto de ouvir MPB, Samba e filmes de diversos gêneros. Assisti ao filme “Legalidade” e gostei muito. Na pandemia, tenho tomado minha cerveja em casa mesmo. Sinto falta de sair com os amigos e com a família para confraternizar.

 

– A gente vive numa sociedade em que os valores da fraternidade, da união e da coletividade sofrem ataques sistemáticos e constantes. O que você pensa da força que a união de pessoas pode ter?

Cada vez mais a ideologia neoliberal avança impregnando nas pessoas ideias individualistas, egoístas e tudo acaba sendo precificado. A vida se torna uma mercadoria e isso não tem como acabar bem. Penso que sem esses valores citados, sem coletividade, o único caminho é a barbárie. É preciso enfrentar essa ideologia dominante todos os dias para que a humanidade possa não só avançar, reduzir as desigualdades, mas também sobreviver enquanto espécie.

 

 

– A gente usa letras minúsculas para se referir ao atual ocupante da presidência da república e seus associados. Na sua opinião de político e professor, como uma pessoa como ele foi eleita?

Não é uma resposta fácil, não há uma fórmula para eleger uma figura dessas. Acredito que vários fatores possam ter contribuído para eleger esse genocida, entre eles, a crise econômica aliada a um sentimento forte de insegurança e indignação fabricado e massificado através da mídia tradicional e de novas ferramentas como o WhatsApp e mídias sociais digitais, o que exige um forte poder econômico para bancar esse tipo de coisa.

 

 

– A gente sabe do quão nocivos são movimentos como “escola sem partido”. Você já teve que enfrentar cerceamento de opiniões em sala de aula?

Costumo dizer que o movimento já começa errado pelo nome “escola sem partido”, na verdade o que eles querem é que a escola tenha somente o partido deles. Felizmente não tive que lidar com esse problema nas escolas e cursos em que dava aula. Mas acompanhando o drama dos professores de diversas instituições de ensino, me coloquei na linha de frente para denunciar e enfrentar esse movimento de práticas fascistas. Foi uma vitória assistir aos líderes do “escola sem partido” anunciando o fim do movimento.

 

– Banda, cantor ou cantora preferidos?

Beth Carvalho

 

– Livro preferido?

Brizolismo, do João Trajano Sento Sé.

 

– Filme preferido?

Legalidade, do diretor Zeca Brito.

 

 

– Como você acha que serão as eleições de 2022?

Ainda é muito cedo para afirmar qualquer coisa sobre 2022, mas tenho o sentimento de que o ideal seria derrubar o governo genocida de Bolsonaro o quanto antes e, apesar da luta e de todas as denúncias contra o presidente, ele ainda é um forte candidato e a disputa será para derrotá-lo. Sem uma linha de ação, sem diálogo entre todas as esquerdas, essa tarefa se torna muito mais difícil.

 

 

– Você está otimista com a política no Brasil atual?

É difícil ter otimismo com o momento atual que o Brasil passa. Além da pandemia de COVID-19, temos uma crise política e econômica grave que se agrava com o passar do tempo e não será superada no sistema capitalista, pelo contrário. Apesar das derrotas, ainda acredito no processo social; na possibilidade do povo encontrar formas de se organizar para alcançar a libertação desse sistema político-econômico e a realização de suas potencialidades. Venceremos!

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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