Três resenhas: Tripa Seca, Melody’s Echo Chamber e Roger Eno

 

Melody’s Echo Chamber – Emotional Eternal
(Domino)
35′, 9 faixas

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

“Emotional Eternal” é o terceiro disco de Melody Prochet e, certamente, o seu melhor trabalho. Se os dois álbuns anteriores mostravam uma psicodelia contemporânea protagonista e absoluta, aqui Melody e sua turma de colaboradores conseguem colocar as cores, detalhes e texturas a favor de um pop ensolarado e muito belo. Tudo que se ouvir ao longo das nove faixas é pensado com muito cuidado, cheio de detalhes e com uma riqueza melódica impressionante. São cordas, teclados, guitarras, baixos e bateria, tudo a favor de uma ourivesaria pop de primeira categoria, lembrando, às vezes, um Stereolab sem a pegada futurista e um pouco mais calcado no presente, sem falar que Melody, cantando sempre em inglês, usa o francês como um detalhe a mais na tapecaria sonora que emerge do álbum. O maior exemplo dessa inteligência surge na ótima “The Hypnotist”, e nas duas versões de “Alma”, com um efeito sensacional. Também há uma lindeza profunda em “Where The Water Clears The Illusion”, na qual o arranjo oferece uma insuspeita pegada pop setentista ornada por pianos e teclados, tudo extremamente bonito. Um discaço.

 

 

 

 

 

Tripa Seca – Charivari (FOTO)
(Areia/Super)
44′, 10 faixas

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

O Tripa Seca reúne Marcelo Callado, Renato Martins, André Paixão (Nervoso) e Melvin Ribeiro – conhecidos por projetos como Acabou La Tequila, Lafayette & Os Tremendões, Banda Cê (de Caetano Veloso), DoAmor, Canastra e Carbona. São verdadeiros highlanders da cena musical carioca desde os anos 1990, que sempre conseguiram brincar com o rock sem resvalar para os clichês e a falta de criatividade. Sob o nome Tripa Seca, o quarteto se esbalda em criações que flertam muito com o alternativo ianque noventista, o brega e rock latino, com um resultado refrescante e inovador. É legal ver letras pouco óbvias como as de “Pessoas Loucas” ou “Supernova” se casando perfeitamente com arranjos que preservam as guitarras mas as subvertem de várias maneiras. “Dói”, por exemplo, é meio carimbó, meio bregona, com (mais) uma letra ótima. “Em Voga” é um country safado, enquanto “Feitiço Do Tempo” rompe portões com pegada quase hardcore, temperada por canastrice. Se tivesse metais, seria uma canção da lavra dos Los Hermanos iniciais. E a romântica “Não Peida No Amor”, tem elementos jovemguardistas revisitados com fúria e garagismo. “Charivari” é um disco que exercita tudo o que se fez de bom no rock alternativo brasileiros nos últimos, sei lá, trinta anos. E funciona muito bem.

 

 

 

 

 

Roger Eno – The Turning Year
(Deutsche Gramophon)
51′, 14 faixas

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Roger Eno, como o nome já diz, é irmão do grande Brian Eno. Este é o seu primeiro trabalho para o prestigiado selo Deutsche Grammophon. Ao contrário do álbum anterior, “Mixing Colours”, no qual colaborava conceitualmente com Brian, este “The Turning Year” é um trabalho mais impressionista, surgido a partir de reflexões e comentários feitos a partir de fotografias. Há temas belíssimos com pianos e sintetizadores que guardam impressões sobre futuro e esperança, mas nada que seja muito superficial. A faixa de abertura, a belíssima “A Place We Once Walked” é calcada em pianos que vão sendo complementados sutilmente por cordas e teclados, que criam um ambiente confortável e familiar para que o ouvinte projete suas próprias impressões. Outras composições, como “Slow Motion” e “Hope”, adicionam alguns efeitos especiais, sobretudo o som do vento, o que dá uma impressão de espaço aberto, muito bem-vinda. O disco está cheio de composições belas e de fácil assimilação, que irão oferecer ao ouvinte uma sensação de bem estar e familiaridade muito grande, neste que é um dos trabalhos mais acessíveis de Roger Eno em muito tempo.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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