The Weeknd lança novo e interminável álbum

 

 

 

 

The Weeknd – Hurry Up Tomorrow
84′, 22 faixas
(UMG)

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

 

 

 

The Weeknd é, em termos de aferição atuais, um “artista do primeiro time”. O sujeito tem mais de 123 milhões de ouvintes mensais, apenas no Spotify. Este “Hurry Up Tomorrow”, seu sexto trabalho, pode estar encerrando esta carreira ou, quem sabe, modificando-a profundamente. Não que seja um disco audacioso em termos sonoros, pelo contrário, mas é, certamente, um trabalho em que Abel Tesfaye/The Weeknd usa “o fim” como um tema recorrente. Pode ser qualquer fim – da vida, da carreira, do amor. Daí a curiosidade sobre o que virá depois deste álbum. Abel já deu um pulo fora dos limites musicais e criou/estrelou a série “The Idol”, em 2023, que foi exibida pela HBO/Max com repercussão bastante dividida. Em termos musicais, sua trajetória se torna extremamente bem sucedida a partir do quarto álbum, “After Hours” (2020), responsável por alçá-lo a este Olimpo pop de grandes estrelas. Isso coincide com um abraço apertado de Abel no pop/R&B dos anos 1980, especialmente a matriz derivada de Michael Jackson. Até então, sua sonoridade era mais devedora aos anos 1990, mas a incorporação de teclados, batidas e abordagem oitentistas caiu como uma luva em seu som, fazendo de “After Hours” e de seu sucessor, o ótimo “Dawn FM” (2022), dois discos muito bem sucedidos. Agora, segundo o artista, “Hurry Up Tomorrow” (que também terá um filme de suspense homônimo lançado em maio deste ano) fecharia uma trilogia na qual os álbuns anteriores teriam sido correspondentes ao “Inferno” e ao “Purgatório”. Seria, portanto, a chegada ao “Paraíso”.

 

Sabemos que tudo isso pode ser uma viagem das grandes e vamos procurar ficar apenas no terreno musical. Não dá pra negar de Abel é um cara talentoso e capaz de produzir/compor/gravar com muita qualidade. Sua música é pop na medida certa, sua postura é enigmática e suas declarações/entrevistas ajudam a manter a curiosidade de fãs e o respeito de críticos. O que fica notório em “Hurry Up” é que Abel procurou dosar sua sonoridade ressuscitando um pouco do que fazia até o terceiro trabalho, “Starboy” (2016), ou seja, a reciclagem do R&B noventista americano, com pitadas eletrônicas e de trip hop. Há, portanto, uma tentativa de dosar essas referências, mas o resultado confirma que The Weeknd flui muito melhor quando se arvora a decalcar timbres dos anos 1980, especialmente batidas e teclados. Quando surge uma faixa deste tipo, a música soa dinâmica e bem resolvida, contrastando com a lenga-lenga do restante do álbum. E, pelamor, por que diabos fazer um disco com quase uma hora e meia de duração?

 

“Hurry Up” é longo demais e seria muito mais eficiente com menos quarenta minutos de duração. Os momentos em que Abel acerta o alvo – cinco faixas, de um total de 22 – não são suficientes para quebrar a sensação burocrática que se instala. Mesmo com participações de Anitta, Playboi Carti, Travis Scott, Florence Welch, Future e Lana Del Rey, além de um time de produtores, o álbum é chato. Os singles que o anteciparam oscilam fortemente. Para duas canções inferiores – “Cry For Me” e a colaboração com Anitta, “São Paulo”, há uma absolutamente sensacional, “Timeless”, que tem vocais do rapper Playboi Carti, além de uma batida maravilhosa e um uso superior de teclados e samples. O culto aos 1980’s segue firme em “Open Hearts”, canção totalmente aerodinâmica e calcada em um sintetizador percussivo, que vai conduzindo a melodia, lembrando vagamente “The Promise”, do one-hit wonder When In Rome. Abel canta com autotune, mas de um jeito que não irrita e nem soa completamente artificial.

 

Outro bom momento é “Enjoy The Show”, com participação do rapper Future, que vasculha o cânon de boas baladas synthfunk da virada dos anos 1980/90, com bom arranjo vocal e intervenções interessantes. “I Can’t Wait To Get There” também vai pelo terreno das baladas funk oitentistas, derramadas, bem cantadas e com melodia elegante. Novamente o arranjo vocal funciona bem, lembrando levemente “Have You Seen Her”, dos Chi-Lites em alguns momentos bem discretos. E “Niagara Falls” é outra balada synth, com mais vocais desencarnados mas com uma batida mais noventista reciclada. O clima é bom, eletrônico e com teclados espaciais e sintetizadores que parecem gelo. E ficamos por aqui. Lana Del Rey soa subaproveitada em “The Abyss” e até o sampler ostensivo em “Big Sleep”, que traz até o crédito ao produtor Giorgio Moroder resvalada para o tédio e o empastelamento total.

 

Este é o trabalho menos interessante de The Weeknd em muito tempo. Talvez o “fim” tão abordado por ele nas canções presentes aqui seja algo válido. Seus melhores momentos são como um elegante e discreto saqueador dos anos 1980. E isso é um elogio.

 

 

Ouça primeiro: “Niagara Falls”, “Timeless”, “I Can’t Wait To Get There”, “Enjoy The Show”, “Open Hearts”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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