The Black Keys – Let’s Rock
Gênero: Rock alternativo
Duração: 38 min
Faixas: 12
Produção: Dan Auerbach
Gravadora: Warner/Nonesuch
Gosto de pensar no Black Keys como uma espécie de restaurante fast food musical. Eles pegam ingredientes nobres – rock, blues, soul, garage – e, a partir deles, simplificam ao máximo tudo o que vêm pela frente. Envolvem o resultado com esta aura vintage que os jovens tanto gostam, misturam com alguma atitude nerd de estúdio e, pronto, temos um produto musical como “Let’s Rock”, o mais recente disco de Dan Auerbach e Patrick Carney. É bem verdade que a dupla vem tornando seu som vertiginosamente mais simples e mais pop com o passar dos tempos, mas, este novo trabalho mostra que esta equação pode causar problemas para Auerbach e Carney.
“Let’s Rock” surge cinco anos depois de “Turn Blue”, que, por sua vez, já era uma popficação do anterior, “El Camino”, de 2011. Talvez “Brother”, de 2010, tenha sido o último trabalho que a dupla lançou em concordância com a proposta inicial, a de revisitar estes cânons sagrados da música pop americana, conferindo-lhes alguma “tunagem” mais contemporânea, preservando sua esquisitice e enfatizando as partes ritmicas e mais pesadas. Funcionou tanto que gerou uma leva clones mais ou menos talentosos por aí. Mas, hoje, 2019, Auerbach e Carney sabem que este modelo precisa de revisão e atualização. Este é o motivo de “Let’s Rock” ser um disco tão “inofensivo” e bonzinho, logo de cara.
As guitarras processadas e saturadas de pedal fuzz – marca registrada da dupla – estão lá mas não incomodam ninguém. São adornos coloridos e fofos em melodias redondinhas e circulares, que vão fazer a delícia dos startuppers aqui e ali. É “rock” seguro, limpinho, com estudo de marca e perspectiva de se tornar um “case de sucesso”, com retorno garantido, “agregando valor” e todas essas expressões abjetas do neoliberalismo verbal de hoje.
Claro, não dá pra dizer que o disco é um lixo. Auerbach se tornou um produtor capaz de imprimir uma marca sonora pessoal e este álbum é cheio disso. Carney, baterista mediano, é outro adorno ao longo das faixas, que são grudentas e chicletudas ao máximo. Exemplos? “Lo/Hi”, “Go”, “Under The Gun”, “Eagle Birds”, todas concebidas com o intuito de não sair do cérebro do ouvinte por muito tempo. Em meio a elas, algumas faixas soam realmente interessantes: “Breaking Down”, que tem uma aura psicodélica/folk mínima, mas que é bem bonita. A balada “Sit Around And Miss You”, que até parece uma revisão soft de Creedence Clearwater Revival; “Tell Me Lies”, harmoniosa e estradeira e a melhor do álbum, “Fire Walk With Me”, a única canção que poderia estar em discos pré-2010.
“Let’s Rock” é uma tentativa de readequação que poucos perceberão. Vão preferir abraçar as faixas mais “abraçáveis” do disco e nada mais. Por baixo, nos subterrâneos, Black Keys vai se transformando em algo que não sabemos bem o que vai ser. A conferir.
Ouça primeiro: “Fire Walk With Me”.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.