The 1975 – Notes On A Conditional Form

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 80 min.
Faixas: 22
Produção: Matthew Healy, George Daniel
Gravadora: Universal

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

 

Sabe quando você é sedentário e alguém te manda correr? Mesmo que seja uma distância pequena, você sairá completamente exausto, vendo o túnel de luz se avizinhando, pedindo clemência. Pois é essa a sensação que me acometeu depois de ouvir as … VINTE E DUAS FAIXAS do novo álbum do quarteto inglês The 1975, “Notes On A Conditional Form”. O que mais é irritante no álbum é poder notar, em momentos bem raros, que os sujeitos têm talento para compor e gravar ótimas canções, mas foram engolfados por uma auto- induzida missão de oferecer relevância em seu pop rock banal. E ampliar o escopo sonoro, buscando punk, eletrônica e outras tinturas como referência de complexidade. O resultado é ruim, não dá pra escapar.

 

O grupo é um dos mais famosos em atividade no planeta. Tem fãs em todos os cantos, tornou-se atração principal de festivais de verão em sua terra natal e conta já com três discos no currículo, nos quais deixam pistas para os fãs, referências, tudo num jogo privado de esconde-esconde sem recompensa, no qual vale a sensação de que a obtenção de uma conexão mais ou menos intensa com a banda é o real objetivo. E há toda uma preocupação – sincera – com temas relevantes. Pró-aborto e pró-LGBTQ+, o grupo já foi expulso de lugares como o estado americano do Alabama e dos Emirados Árabes por defender seus pontos de vista, que mereciam um invólucro musical mais simples e menos pretensioso.

 

Senão vejamos: “NOCF” começa com uma faixa de quase cinco minutos, que é, basicamente, um discurso da ativista sueca Gretha Tunberg sonorizado. Não preciso alertar do potencial soporífero da gravação, ainda que, repito, o propósito seja nobre. Após este início, o ouvinte é sacudido por uma canção curta, de têmpera “punk”, chamada “People”. Nada a ver com formações clássicas do passado do estilo, mas há barulho e gritaria, o que é bom. Depois, novo instrumental e, mais além, uma faixa em que o grupo brinca de misturar efeitos de dubstep e outras eletronicices. E por aí vai. Tem espaço para uma faixa pungente, “Jesus Christ 2005 God Bless America”, que lembra “I’m On Fire”, de Bruce Springsteen por alguns instantes, e conta com Phoebe Bridges nos vocais de apoio. Ela também participa de uma outra boa canção do álbum, “Birthday Party”.

 

Algumas excentricidades até que soam bem. “Nothing Revealed/Nothing Denied”, que tem tinturas hip-hopescas, até que se salva. “Me & You Together Song” parece alguma coisa gravada nos anos 1990 e não faria feio na trilha sonora de “Friends”, além de “If You’re Too Shy”, que faz o nome da banda mudar para The 1985, tamanha a inclusão de tiques e taques daqueles tempos. E o grande momento do álbum, que só chega no fim do percurso inchado de canções: “Guys”, uma auto-exaltação à banda e à amizade, pequena maravilha pop com tintura oitentista inegável, mas com classe e apuro vocal, chegando a lembrar algo que poderia ser de gente como 10cc.

 

Fosse um álbum com metade das faixas e menos distrações extra-música, “Notes…” seria, não só o melhor trabalho de The 1975, como um sério concorrente a figurar nas listas de grandes discos de 2020. Como está, inchado e cheio de mensagens truncadas e mal executadas, fica reprovado e vai pra prova final.

Ouça primeiro: “Guys”.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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