Soul Asylum e Offspring: noventismo para quem precisa

 

 

 

 

Soul Asylum – Slowly, But Shirley
40′, 12 faixas
(Blue Elan)

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

 

 

 

 

 

 

The Offspring – Supercharged
32′, 10 faixas
(Concord)

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

 

 

 

Você está a fim de novidade? De sonoridades que devem ser levadas em conta quando falamos da produção pop atual e relevante? Então seu lugar não é aqui, nesta resenha. Vamos falar de duas bandas que vivem da tentativa de reeditar glórias passadas e contam com a conivência absoluta de suas bases de fãs para levar adiante a empreitada. Em terrenos diferentes do espectro do rock alternativo atual, Soul Asylum e Offspring caminham com coerência. A primeira, ainda que tenha permanecido ativa e produtiva ao longo do tempo, encolheu consideravelmente e, para a maioria das pessoas, ainda é aquela que lançou “Runaway Train” no distante ano de 1992. A segunda, mais badalada e fazendo um som que desce mais redondo no gosto vigente, segue sem inovar um único centímetro em sua proposta sonora e conta com o compromisso de reeditar as glórias do passado. Em ambos os casos, Soul Asylum e Offspring são, pelo menos, competentes no que se dispõem a fazer, ainda que haja diferenças marcantes entre “Slowly But Shirley” e “Supercharged”, os dois trabalhos mais recentes. Vejamos.

 

Soul Asylum tem uma longa folha corrida de serviços prestados entre o punk, o rock alternativo e o que passou a fazer depois de 1992. Perdeu o bonde já na própria década de 1990 e, se não fosse pela presença do guitarrista, cantor e cérebro David Pirner, certamente já teria acabado. Este “Slowly But Shirley” é o décimo-terceiro disco que o grupo lança e, das formações clássicas, só Pirner ainda está presente. Mas há um detalhe interessante por aqui: Steve Jordan, atual baterista dos Rolling Stones, produz o álbum e retoma um vínculo existente desde 1990, quando também produziu “And The Horse They Rode On”, disco imediatamente anterior ao futuro bestseller “Grave Dancers Union”, que viria à luz dois anos depois. Sendo assim, com Jordan novamente na pilotagem do estúdio e com uma homenagem à corredora de dragsters Shiley “Cha Cha” Muldowney, de quem Pirner é fã, o álbum tem uma sonoridade suja meio incomum para as produções atuais, mas que deve agradar os fãs mais esclarecidos.

 

Digo isso porque a origem do Soul Asylum, ainda que não pareça, é a mesma cena de Minneapolis que revelou bandas como Replacements e Husker Dü, para ficar apenas nas mais relevantes. Também é a cidade na qual Prince atuou durante muito tempo e, ainda que não pareça, há conexão entre o rock e o funk/soul eletrônico oitentista. Tanto que Michael Bland, que tocou, tanto com Prince, quanto com Paul Westerberg, líder dos Replacements, está na atual encarnação do Soul Asylum. Esses detalhes pouco acrescentam ao resultado final de “Slowly But Shirley”, que traz Pirner e seus amigos em velocidade de cruzeiro, com faixas a meio caminho entre o folk rock noventista e algo mais pesadinho e até country, caso da boa “Freak Accident”. Além dela, “High Road” e a mais calminha “You Don’t Know Me” devem fornecer combustível suficiente para os fãs – e só os fãs – seguirem interessados.

 

 

 

 

Com o Offspring o clima é diferente, ainda que a falta de novidade também seja alarmante. Atração confirmada do próximo Lollapalooza e figurinha fácil em terras brasileiras, a banda californiana é uma das mais queridas de uma geração de fãs de punk skatista/pop dos anos 1990, que envelheceu sem perdê-la de vista. Além disso, soube renovar seu público com constantes lançamentos de discos que, se não conseguiram reproduzir os sucessos de trabalhos como “Smash” (1994) e “Americana” (1998), mantiveram a chama acesa. A garganta do vocalista Dexter Holland já não é a mesma há tempos, mas a presença dele e do guitarrista Noodles garante o bom humor e uma inegável sinceridade na proposta estética. É música para pular, escapar da realidade e pensar pouco, falando de problemas e questões juvenis razoavelmente existenciais, ainda que os dois já tenham mais de sessenta anos. Ninguém se importa. Quem vai aos shows do Offspring espera ouvir os hits noventistas e se sentir no meio da festa que a banda oferece ao vivo. Nada errado nisso.

 

“Supercharged” é um disco ok. Ainda que tenha uma sonoridade polida demais e meio aguda, tem alguns momentos que mostram que Holland e Noodles ainda têm a manha. A homenagem aos fãs brasileiros em “Come To Brazil” é curiosa, arranha a estética thrash metal e cita cantos de saudação do público, o célebre “olê, olê, olê, olê” cooptado dos estádios de futebol. Além dele, duas canções devem fazer bonito ao vivo: “Make It All Right”, um dos singles, que tem melodia ensolarada e bom arranjo de guitarras e a romântica “Ok, But This Is The Last Time”, que soa como se fosse uma canção do Weezer com um pouco mais de peso. Num mundo em que Green Day é superbanda, Blink-182 é aceito sem restrições, por que diachos o Offspring não teria seu lugar ao sol?

 

 

Ouça primeiro:

 

Soul Asylum – “Freak Accident”, “High Road” e “You Don’t Know Me”.

Offspring: Make It All Right”, “Come To Brazil” e “Ok, But This Is The Last Time”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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