Sou comunista e maconheiro

 

 

Você sabe o que significa “disfemismo”? Te dou uma dica: é uma figura de linguagem, inversa ao eufemismo. Ainda está difícil? Te ajudo então:

 

“O disfemismo é uma figura de estilo que consiste em empregar deliberadamente termos ou expressões depreciativas, sarcásticas ou chulas para fazer referência a um determinado tema, coisa ou pessoa, opondo-se assim, ao eufemismo. Expressões disfêmicas são frequentemente usadas para criar situações de humor.”

 

Um exemplo clássico de eufemismo é o uso da palavra “caramba” para substituir “caralho” , a expressão “poxa vida” em vez de “puta merda” e por aí vai. Você entendeu a lógica da coisa. O Brasil de hoje, do burrismo e da mediocridade como estilo de vida e governo, é pródigo em disfemismos. Você já deve ter ouvido e lido que defender a igualdade entre as pessoas, com oportunidades equivalentes e chances maiores para pobres e desfavorecidos em geral é “coisa de comunista”. Ou que desejar uma melhoria na cobrança de impostos, gerando mais recursos a partir da taxação dos mais ricos era um comportamento que deveria te fazer ir pra Cuba.

 

 

A alusão a países socialistas e ao próprio sistema mostra que enxergar o mundo com preocupação por conta da enorme desigualdade entre pessoas e países é um comportamento “reprovável” pelas pessoas que ocupam o poder e seus apoiadores. Ou seja, querer o planeta como um abismo de inacessibilidade é algo desejável e justo, enquanto o oposto é o comportamento “diferente” do aceitável. Disso a gente já sabia, certo?

 

E agora, o pior ministro do meio ambiente que o Brasil já teve, ricardo salles, disparou que, diante do caos ambiental que sua gestão tem gerado no país, não lhe importa a opinião de “maconheiros”. Sim, isso mesmo, maconheiros.

 

 

Neste caso, o ministro se refere às pessoas que se preocupam com a ecologia, com o planeta, com a proteção aos biomas brasileiros, severamente castigados pela vista grossa que sua gestão faz para a exploração indiscriminada do solo e dos recursos naturais. Para o colaboracionismo com o ataque a índios e a perseguição a áreas demarcadas. Pelo descaso para com a Amazônia e o Pantanal, tratados como se fossem terrenos baldios nos quais se queima entulho.

 

 

Se por maconheiro esta gente entende as pessoas indignadas e capazes de ver que o futuro do país e das pessoas está intrinsecamente atrelado à conservação do meio ambiente, sua defesa e punição dos que o atacam, eu gostaria de me confessar totalmente maconheiro.

 

 

E comunista. Muito comunista, já que defendo a presença constante do estado na economia, assegurando a distribuição justa de recursos, defendendo os mais pobres, reservando para si a gestão da educação e da saúde como bens de todos os cidadãos.

 

Sou maconheiro e comunista. Me prendam. Ou deixem de ler.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

4 thoughts on “Sou comunista e maconheiro

  • 14 de outubro de 2020 em 20:02
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    Mais um comunista, esquerdopata, vermelhinho, bolivariano e comunista (e agora também maconheiro!) aqui. Pode contar comigo, companheiro!

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    • 14 de outubro de 2020 em 22:56
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      É isso, tamo junto na vermelhitude. 🙂

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  • 13 de outubro de 2020 em 15:17
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    Obrigado, Fernando! Tamo junto. Abraço.

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  • 13 de outubro de 2020 em 13:24
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    Também sou maconheiro e comunista consciente!
    Belo texto, CEL, principalmente em dias tão tenebrosos.
    Forte abraço!

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