Rufus Wainwright – Unfollow The Rules

 

 

Gênero: Pop alternativo

Duração: 51 min.
Faixas: 12
Produção: Mitchell Froom
Gravadora: BMG

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Rufus Wainwright não gravava um disco pop desde 2012, quando soltou o belo “Out Of The Game”. Sua carreira é pautada pelo gracioso deslizar entre as referências mais comuns – folk, pop, rock – e um amor por música erudita, óperas, sonetos, poemas barrocos. É, como diria Cazuza, “um exagerado”, que pauta suas obras pela exuberância vocal, de arranjos, de sentimento e referências. Os flertes contínuos com estes gêneros mais rebuscados fizeram de Wainwright um artista complexo e ímpar. Tanto que, neste seu retorno ao pop, com o fabuloso “Unfollow The Rules”, ele oferece um verdadeiro repasto de canções lindas, sentidas, arranjadas com pianos, cordas, teclados e efeitos, que emolduram sua voz peculiar num mundo de sonho e final de musical dos anos 1940. Tudo é belo e cuidado para que o ouvinte se sinta pairando numa nuvem de magia e sentimento. Não é exagero, gente.

A produção do álbum ficou por conta do experiente Mitchell Froom, que já pilotou estúdios para Crowded House, Paul McCartney (chegando a integrar a banda deste nos idos dos anos 1990) e Elvis Costello, entre outros. Há músicos como Matt Chamberlain, Jim Keltner, Blake Mills e outros e as gravações ocorreram no mitológico estúdio Sound City. Essas presenças e referências servem para revestir o álbum de uma sonoridade grandiosa, que, no entanto, não consegue eclipsar a beleza das composições. Pena que a maioria das pessoas preste mais atenção nos arranjos e na voz de Rufus, deixando de lado a capacidade impressionante que ele tem para confeccionar belos épicos de bolso em seus trabalhos. Não espanta, portanto, que ele conserve essa virtude e que surja ainda mais turbinado por conta as experiências recentes com a música menos popular.

 

São doze canções majestosas, sem exagero. Algumas são arrepiantes, como a abertura, com “Trouble In Paradise”, que começa com Chamberlain tocando um loop de bateria e uma enxurrada de vocais, ambiências e climas que partem do gospel e vão para um pop celestial, orquestrado e de amplo alcance. E isso é só o início. Em seguida vem a suprema “Damsel In Distress”, que tem violões dedilhados, múltiplas camadas de vocais e o registro primordial de Rufus conduzindo a melodia, enquanto pega o ouvinte pelas orelhas e o leva para passear nessa Fantástica Fábrica de Chocolate que vem em cascatas pelos arranjos múltiplos. A faixa-título, logo em seguida, vertida em forma de balada ao piano, é uma das melodias mais belas que ouço em muitos anos. É dramática, opulenta, maior que a vida e encontra ressonância no peito dos que ainda teimam em ter um coração. A mensagem é simples, “não siga as regras”. Obedeçamos.

 

Ao longo do álbum, Rufus esbanja categoria e identidade. É como se ele misturasse os momentos mais dramáticos de interpretações de Bowie, Mercury e Elton John, depois reprocessasse essas informações e criasse algo próprio. Essa é a impressão que passa “Romantical Man”, que surge tal qual um pedaço de sol após a chuva. E com “My Little One”, composta para a filha, como se fosse uma história de ninar em forma de música. E ainda tem a enorme “Early Morning Madness” e a anti-trumpesca “Devils And Angels”, que, sob a forma de uma peça dramática e trágica, fala do caos civilizatório da América sob a administração do presidente/agente laranja.

 

Rufus Wainwright, ninguém nota, entrega álbuns belíssimos e impressionantes. Sua sonoridade é característica, elaborada, precisa, cheia de estilo e capaz de evocar imagens, mensagens e poder. Este novo álbum é impressionante.

 

Ouça primeiro: “Unfollow The Rules”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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