Ritchie 70 Anos e 17 hits

 

 

Richard David Court fez setenta anos no dia 06 de março último. Você conhece este cidadão britânico pelo nome artístico Ritchie, que designa um dos grandes artistas do rock nacional em todos os tempos. Não é exagero, Ritchie está na área desde os anos 1970, quando desembarcou por aqui, mais precisamente, em 1972. De lá pra cá, e viveu entre idas e vindas no eixo Rio-São Paulo e empregos que variavam de professor de Inglês a músico convidado de bandas como A Barca do Sol. Em 1975, ele se juntou ao Vímana, que também contava com Lulu Santos e Lobão, chegando a gravar um compacto pela Som Livre, mas, como o grupo não foi muito longe, ele seguiu dando seus pulos como professor. Após participar das gravações do “álbum brasileiro” do baterista do Traffic, Jim Capaldi, “Let The Thunder Cry”, em 1980, Ritchie achou que já era hora de ter sua carreira solo e de cantar em português.

 

Após algumas gravações com seu amigo, Steve Hackett, guitarrista que pertencera ao Genesis, Ritchie apresentou seu material a Liminha, que, por sua vez, correu pelas gravadoras em busca de quem desse a chance ao homem. Foi a CBS que abriu as portas para o inglês, que já iniciou sua trajetória com um golaço de placa: “Menina Veneno”, lançada e compacto em fevereiro de 1983, se tornou um dos maiores hits da música popular brasileira em todos os tempos temporais e desaguou no ótimo álbum de estreia, “Voo de Coração”, lançado em julho do mesmo ano. Dele vieram cinco sólidos hits radiofônicos, que consolidaram o nome de Ritchie em todos os cantos. Em pouco tempo ele já estava abrindo a novela das oito global “Champagne” e figurando em todas os programas de auditório da época, além de se aventurar na gravação de clipes. No ano seguinte, Ritchie lançou o bom “E a Vida Continua”, que o manteve nas paradas, porém com menos intensidade, gerando dois hits – “Mulher Invisível” e “Só Pra O Vento”. Também colaborou com Caetano Veloso na faixa “Shy Moon”, de seu álbum “Velô”. Quando tudo apontava para um declínio criativo, acentuado, segundo dizem, pelo desgosto por não ter sido convidado para o primeiro Rock In Rio (1985), algo que faz todo o sentido, Ritche sacou um ás de ouros do colete e emplacou “Transas” na trilha sonora de outra novela global, “Roda de Fogo”.

 

A canção, de autoria de Nico Rezende e Paulinho Lima, veio sonorizar o romance dos personagens de Tarcísio Meira e Bruna Lombardi na TV e deu a Ritchie, então na Polygram, um novo fôlego que, no entanto, não durou muito tempo, ainda que ele tenha gravado discos solo até 1990, quando passou a atuar mais como desenvolvedor de softwares sonoros. Mesmo assim, ele ainda faria parte do grupo Tigres de Bengala, ao lado de Claudio Zoli, Vinicius Cantuária, Dadi, Mu e Billy Forghieri, que gravou um disco homônimo em 1993. Ele só voltaria ao disco em 2000, quando soltou o bom “Auto-Fidelidade”, que saiu pela gravadora Deck Disc. Daí em diante, Ritchie voltou a lançar álbuns esporadicamente, em seu próprio selo, Popsongs. Vieram então o CD/DVD “Outra Vez”, gravado ao vivo, com versões atualizadas de clássicos do passado, e três lançamentos de versões de artistas estrangeiros – a coletânea “60” (2012) e volumes dedicados às obras de Paul Simon (2016) e Cat Stevens (2019). A gente aqui resolveu celebrar o aniversário do homem com uma das nossas já tradicionais playlists, procurando relembrar o quanto Ritchie tem gravações bacanas em seu catálogo. Aproveita pra conhecer, jovem.

 

 

De “Vôo de Coração” (1983)

 

– A Vida Tem Dessas Coisas – o segundo hit do disco, igualmente entoado pelo país na época.

 

– Voo de Coração (com Steve Hackett) – a baladaça clássica-progressiva do álbum. A letra é futurista e meio Blade Runner, com solo sensacional de Hackett.

 

– Casanova – tem uma das batidas tecnopop mais bacanas feitas no país, sem falar no riff de baixo sintetizado em teclados velhuscos. Uma lindeza.

 

– Menina Veneno – o clássico inigualável.

 

– Pelo Interfone – uma belezura tecno-latina de gringo com direito a vozes sintetizadas e melodia que se presta a várias dancinhas.

 

– The Letter – escondida no álbum, uma cover bela e sincera do clássico dos Box Tops, grupo americano que fez sucesso nos anos 1960 e que trazia um certo Alex Chilton (que formaria o Big Star) nos vocais e guitarras.

 

 

De “E a Vida Continua”

– A Mulher Invisível – uma maravilha tecnopop sem erros ou excesso. O arranjo é perfeito, a melodia é insinuante e a interpretação de Ritchie é irretocável.

 

– Só Pra O Vento – música meio latina, meio reggae, que fez sucesso por conta da inclusão na novela A Gata Comeu.

 

– Gisella – baladinha favorita da casa, que, segundo consta, Ritchie fez para uma sobrinha de 15 anos. O arranjo é delicado, a letra é bela.

 

 

De “Circular” (1985)

 

– “Telenotícias” – um hit pessoal deste que é o terceiro disco de Ritchie, que não foi muito bem nas paradas. A melodia e o arranjo são felizes e crocantes.

 

– “Nesse Avião” – gosto pessoalmente o arranjo tecladeiro extremo que esta canção tem, ainda que seja loucamente datado. A melodia é bonitinha, a letra é divertida.

 

– “Coisas do Coração” – outro reggaezinho que não faria feio no repertório da Blitz. É bonitinho.

 

 

 

De “Auto-Fidelidade” (2000)

– “Lágrimas Demais” – uma clássica canção pop rock, algo que, ainda que pareça simples, era meio novo na carreira de Ritchie, um homem que sempre se pautou pelo tecnopop.

 

– “Antes Que O Amor Acabe” – parceria com Nelson Motta, também pautada por um arranjo mais pop rock que tecnopop, bem simpática.

 

 

De “Outra Vez” (2009)

– Transas – o clássico de 1986 não está disponível nos serviços de streaming, por isso usamos esta versão ao vivo de 2009. Colocaremos o original em versão extendida logo abaixo.

 

– Shy Moon – outra versão ao vivo para uma gravação do passado, no caso, a colaboração com Caetano, que aqui é cantada totalmente por Ritchie.

 

 

De “60” (2012)

 

– You Only Live Twice – Ritchie é bom de cover, a gente já sabe. Digna de menção é esta versão fidelíssima que ele fez da mais bela canção de filmes de 007, gravada originalmente por Nancy Sinatra, em 1967. Clássico e ponto final.

 

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *